Entrevistas – Monica Buonfiglio

A GUERREIRA DO ESOTERISMO


Entrevista realizada em 2.008
Monica Buonfiglio, uma mulher de opinião forte, guerreira, gente. Tem participação marcante no movimento esotérico, através de cursos, palestras  e congressos. É uma das personalidades mais respeitadas em assuntos esotéricos e espiritualistas no Brasil. Autora de 83 livros espiritualistas, editados no Brasil e exterior, Monica foi recordista de vendas nos anos de 95 e 96, chegando a  seis milhões de exemplares. Seus livros mais conhecidos são “Anjos Cabalísticos” e “Almas Gêmeas” que foram lançados também nos Estados Unidos, Uruguai, Portugal, Venezuela, Argentina, Chile e Colômbia. Foi apresentadora

Léo Artese (LA) – Como foi a convivência com seus pais, que eram muito religiosos?

Monica Buonfiglio (MB) – Sinceramente Léo, foi bem complicado. A minha mãe já é falecida, mas com meu pai, sempre tive divergências em relação a religião. O que eles professam ou a maneira como eles professam é algo que me incomoda profundamente.  Não entendo isso. Nem a postura deles e de tantas outras pessoas. Acontece o mesmo quando abro minha caixa de emails e algumas pessoas enviam mensagens rotulando-se religiosas e dizendo para buscar Deus e para buscá-lo, pois ser esotérico ou espiritualista é coisa do mal. Sempre digo: deixem os esotéricos em paz… alguns falam com gnomos, fadas,duendes, plantas…. Estou falando de uma maneira doce, pois faço parte deste mesmo grupo, mas pelo menos não discriminamos ninguém, aceitamos todas as pessoas independente de sexo, religião, cor, idade etc. Prefiro fazer parte de um grupo assim, do que ser um falso freqüentador de igreja por exemplo e pedófilo, é inadmissível, pois fui molestada, por um religioso, aos cinco anos de idade.

(LA) -E sua família soube disso?

(MB) – Sim, porque esse religioso tem ligação com nossa família. Foi tudo muito difícil. Hoje estou bem resolvida, mas entendi porque era rebelde na minha adolescência (ninguém é  assim sem motivo). Entendi porque não queria voltar para a minha casa depois da aula, quando era criança, além de outros detalhes. Hoje entendo o que acontecia. Minha mãe era uma pessoa que se preocupava muito, queria entender o por quê eu não queria ir para casa e eu comecei a frequentar a umbanda, depois o candomblé e depois seguimentos esotéricos. Foi muito complicado! O esoterismo foi uma porta para tentar escapar da morte. Tentei o suicídio três vezes por isso.

(LA) -E daí mais tarde você quis ir para Bahia?

(MB) – Sim, devido minha ligação com a cultura afro, acreditei que deveria me encontrar com a Mãe Menininha e com ela obteria as respostas sobre meu futuro. Ainda tenho muito carinho pela Bahia mas por mais que desejo, não consigo expandir meu trabalho para o nordeste. Tenho um projeto de trabalho nos EUA e uma das pessoas que eu quero convidar é o Léo Artése!

(LA) -Com prazer!

(MB) – Quero fazer o maior canal espiritualista do Planeta e com fé em Deus a gente vai conseguir. Houve a divulgação de uma matéria em que a Madona conheceu o trabalho que desenvolvi com os anjos (cabalísticos) no Brasil e usou parte deste trabalho; fiquei feliz, mas independente disto, quero fazer esse portal, fazendo links com profissionais do Brasil, já que nosso país é considerado por muitos como a Terra Prometida; creio nisso. Há uma preocupação com o desenvolvimento da Amazônia, com o aspecto religioso xamânico. Quero, com sua ajuda, fazer um trabalho muito bem feito, com a tradução em vários idiomas.

(LA) -Sei que um dos seus grandes sonhos  era conhecer a Mãe Menininha na Bahia. Não é verdade?

(MB) – É verdade! Eu não a conheci pessoalmente, mas o recado que ela mandou foi para que eu continuasse trabalhando com a espiritualidade e foi o que fiz.

(LA) -Você chegou a raspar a cabeça?

(MB) – Sim! Tenho 29 anos de feitura no Candomblé, mas não frequento nenhum terreiro. Sai porque não aceito o sacrifício dos animais e também por não aceitar nenhum tipo de exploração comercial.

(LA) -Você é filha de Yansã?

Não, sou filha de Logun Edé (orixá metade Oxum, metade Oxóssi).

(LA) -Você tem um jeitão guerreira (risos)

(MB) – Isso mesmo! Aliás, este é o perfil da maioria das mulheres atuantes Léo. Temos que sair dessa onda do patriarcado, onde só os homens mandam!  O que deve prevalecer na Nova Era é o Matricentrismo onde mulheres e homens podem conversar e fazer as mesmas coisas igualmente, sem disputa.

(LA) -Matriciais, como diz a Carminha Levi?

(MB) – Exatamente! Vamos parar com isso de separação. Já está tão por fora! Não é verdade?

(LA) -Como sentiu o despertar da sua mediunidade?

(MB) – Foi desde os cinco anos quando fui molestada.

(LA) -Então, podemos dizer que esse fato lamentável foi uma morte e uma iniciação para você?

(MB) – Sim, com sete anos eu já dava consultas, não como um profissional claro, mas era bem procurada.

(LA) -Que tipo de consulta?

(MB) – Eu ia às festas e atendia os pais dos meus amiguinhos. Um dia, tomei uma surra depois dos parabéns de um deles que era o aniversariante. No outro dia, os pais dele foram em casa para pedir desculpas para minha mãe. Eu sentada no sofá, triste… ô meu Deus (na verdade, eles voltaram para saber mais detalhes).

(LA) -Isso tudo em São Paulo?

(MB) – Sim, no bairro da Liberdade. Com dez anos inventei um jogo de búzios, aos 15 já era Babá (mãe de santo de umbanda), aos 17 e aos 21 inaugurei em São Paulo a primeira escola espiritualista do Brasil, com a prática de todas as ciências alternativas (em uma época em que qualquer tipo de prática divinatória era considerada crime: isto mudou no final da década de 80).

(LA) -Com quem raspou sua cabeça (fez sua feitura de santo) ?

(MB) – Com um senhor chamado Pai Artur (já falecido) e dois nigerianos (mais tarde, fiz o curso de yorubá na USP).

(LA) -E passou a atender e a fazer a caridade desde cedo… É verdade que chegou a dormir nas ruas?

(MB) – É verdade! Fiquei um ano longe de casa, dormindo na rua.

(LA) -Mas… o que te deu na cabeça?

(MB) – Na época, revolta e uma imensa vontade de liberdade.  Eu não era entendida pela minha família. Achei melhor ir embora. Segundo Dalai Lama, antes de receber uma grande missão, fazemos uma grande peregrinação, hoje sei que foi isso. Com esta caminhada de humildade, fui abraçada pelos anjos.

(LA) -E como foi a experiência?

(MB) – A melhor possível. Acreditava que tinha o corpo fechado. Não foi fácil e não recomendo a ninguém. Sem dinheiro, sozinha, sem amigos, telefone, nada. Tomava banho em rodoviárias ou nas casas das pessoas das cidades. Trocava um prato de comida por uma consulta de jogo de búzios. Fui empregada doméstica, vendi cocada, fui babá e caminhei por todas as cidades do nordeste. Depois, voltei. Aluguei uma casa, fiquei fazendo minhas consultas e fui convidada a fazer um programa na TV Bandeirantes, o Abracadabra.

(LA) -E como partiu esse convite da Bandeirantes?

(MB) – Depois de um ano nesta casa, eu já era conhecida e minha mediunidade muito apurada. As pessoas entravam e eu nem precisava de um oráculo; dizia nomes e situações. Isto foi parar nos ouvidos da Márcia Saad que me levou para a TV. E eu estava numa situação lamentável. Além disso, fazia voto de pobreza. Quando me lembro da maneira que me apresentei, Deus do céu…

(LA) -E  gravaram daquele jeito?

(MB) – Daquele jeito! Depois ela me disse que se eu quisesse trabalhar na Bandeirantes, tinha que dar um trato no visual. Ai eu perguntei: Quanto é que vocês vão me pagar, pois não tenho dinheiro para comprar roupas. Ela falou: Não tem cachê ! Olha, eu vou lhe pagar um X (algo em torno de R$ 200,00 em valores atuais). Eu ia a pé para gravar. Daí eles arrumaram um carro para me buscar e me levar. Foi desta maneira que comecei. Para ter uma ideia, já fui intimada para ir à delegacia por vadiagem quando fazia o Abracadabra.

(LA) -Onde ?

(MB) – Eles falaram que era proibido jogar búzios. Fui intimada para ir na Segunda Delegacia de São Paulo. Foram tantos os problemas que aconteceram. Já me bateram, quebraram o telhado da escola, rasgaram os  livros, quebraram as carteiras… Nossa, já passei por muitas.

(LA) -Tudo isso no começo na época do Abracadabra?

(MB) – Foi.

(LA) -Como foi o impacto de aparecer como uma bruxa?

(MB) – Foi legal! Bem bacana! As pessoas queriam fazer consultas comigo, mas eu não fazia e dizia: faça meus cursos e aprenda a descobrir o futuro você mesma. E as pessoas começaram a fazer os cursos! Eu não tinha nem carteiras e elas sentavam no chão; foi desta maneira que comecei.

(LA) -Você não sente falta de um programa de TV mais universalista? Atualmente vemos programação de católicos, evangélicos e outros religiosos, mas as opções para o Movimento da Nova Era são bem poucas. Você está com um projeto, não é isso?

(MB) – Eu acho que falta sim, mas tudo tem um por quê. Tenho uma amiga, Siça Sellen que já previa uma queda do esoterismo há 20 anos, porque tudo é cíclico. Esses tempos são bons para nos preservarmos também. Nos preservar até dessa nova leva de pessoas que está aparecendo e que acha que já sabe de tudo e explora as pessoas com valores exorbitantes.

(LA) -Em 95/96, você vendeu mais de seis milhões de exemplares de seu livro: Anjos Cabalísticos. Como vê esse sucesso?

(MB) – O número de vendas foi maior do que isto, porque só numa parceria com o jornal Folha da Tarde, atingi
uma tiragem excepcional. Além disso, o livro vendeu em 23 países.

(LA) -Quantos livros você já escreveu?

(MB) – Ao todo, 83.

(LA) -Certa vez você teve um contato com o Chico Xavier. Como foi o encontro?

(MB) – Foi lindo! Foi em 1995 e o Chico foi a pessoa mais pura que já conheci. Senti-me um grão de pó perto dele.

(LA) -Ele estava já bem doente ?

(MB) – Estava doente. Mas estava bonito e transmitia paz.

(LA) -Você já estudou muito, não é Mônica?  Vejo você relacionada com tantos assuntos!

(MB) – Sim, mas nunca tive professores, sempre fui uma auto-didata.

(LA) -Bom, eu já li material seu sobre tarot, runas, búzios, anjos, cabala, orixás etc. De tudo o que você estudou, o que sente que foi mais fundamental para o seu crescimento?

(MB) – O estudo dos anjos, sem dúvida, pois é algo muito sério. Sinto que as pessoas não podem brincar com este tema. Eu por exemplo, não me atrevo a estudar xamanismo, pois considero muito sério. Devemos tomar muito cuidado com cada palavra proferida. Nó somos o que falamos, olhamos e comemos e atraímos na mesma intensidade. É necessário conhecer bem as forças que
se está chamando.

(LA) -E como foi esse chamado para os Anjos? Foi um sonho, uma intuição….?

(MB) – Um dia um pai-de-santo me disse que tinha amarrado meu Anjo da Guarda num quarto (risos) e que não mais sairia da sua casa. Fiquei apavorada e procurei uma senhora (Siça Seelen) que me disse: que nada! Seu anjo da guarda é muito forte! Ela me disse para orar durante sete dias para este meu ser protetor e que tudo iria mudar na minha vida. Orei com fé e mudou mesmo! Mas, como disse, temos que fazer da maneira correta, pois tudo é muito forte!

(LA) -Você compara os Orixás com os Anjos ?

(MB) – Eles  são devas, mesma essência.

(LA) -Há relatos de pessoas que dizem receber manifestações angélicas na forma de índios norte-americanos. O que você acha disso?

(MB) – Não tenho muito conhecimento sobre isso, precisa ser averiguado, mas se for um trabalho sério, devemos respeitar. No meu estudo percebi que tudo está interligado. Também sinto que somos privilegiados por viver no Brasil. Temos a Amazônia! Ando bastante preocupada com a Amazônia. Sinto que a Virgem Maria e os anjos irão fazer uma grande manifestação na Amazônia. De uns tempos para cá, não consigo tirar Santa Maria da minha cabeça. Não a Maria da Bíblia, a sim, a energia de Maria. Com certeza, vai acontecer algo muito forte na Amazônia. Vai ocorrer uma manifestação mariana muito séria na Amazônia que a gente vai cair para trás…e tem a ver com o xamanismo,com a energia da Terra. Ela vai mostrar que o Brasil é uma Terra abençoada!

(LA) -Você também escreveu um livro sobre a vida de Jesus. Jesus; Palavras de Fogo. Não é?

(MB) – Sim. Escrevi mostrando Jesus como um iniciado, que se relacionou com Maria Madalena, que não morreu na cruz e que teria vivido no Egito e na Índia. Na minha opinião, se ele namorou Madalena ou não, se ele foi para o Egito, Índia, sobreviveu a crucificação ou não, não muda em nada a força de Jesus. O que muda? Não iria torná-lo nem menor e nem maior do que já é; o maior mestre da Nova Era.

(LA) -Como você vê o sucesso de obras como o Segredo? Eu me lembro de ter visto esses conceitos estudados há mais de 30 anos nos livros, por exemplo de Norman Vincent Peale : O Poder do pensamento Positivo, assim como nos conhecimentos esotéricos da Nova Era. Você viu alguma novidade?

Eu realmente acho algumas coisas tão fracas no Segredo e algumas absurdas. A vida não é tão fácil assim, para nenhum de nós. Sendo espiritualista ou não, os problemas chegam para todos.

(LA) -E você também já passou por uma situação séria e saúde?

(MB) – A minha médica chegou a me dar 3 meses de vida. Eu nunca mais vou me esquecer do que ela me falou. Entrei em pane.

(LA) -Você questionou a fé nesse momento?

(MB) – Não. Senti que tinha mais tempo de vida. Achava que tudo estava indo muito rápido. Sempre achei que teria situações de risco de morte e que sempre escaparia. Daí quando recebi a notícia pensei…será que agora chegou pra valer?
Fiquei acamada durante três meses. Mas….passou.

(LA) -Que tipo de transformação você acha que o mundo está passando?

(MB) – Sinto que desde 2.000 acontecem mudanças radicais e profundas. Sinto que após as Olimpíadas em Pequim (08/2008),  algo irá mudar com o desenvolvimento da Nova Era. Quero estar errada, pois prevejo algo ruim no Tibet, com os monges tibetanos no período dos jogos. O Dalai Lama só vem trazendo o amor e a paz e os acontecimentos irão nos  fazer refletir sobre os nossos atos, sobre a concepção de Nova Era, sobre essa loucura que estamos vivendo. É difícil conviver com as diferenças de crenças.

(LA) -O que você indica para as pessoas se livrarem de pragas? (risos)

(MB) – Só dizer: Protege-me Deus! Só isso.

(LA) -E sobre a Almas Gêmeas?

(MB) – Acredito em Almas Gêmeas, elas realmente existem, mas cada um tem que crescer
individualmente. O que vale é o amor que se vive enquanto as pessoas estão juntas.

(LA) -Como é a sua alimentação Mônica?

(MB) – Eu sou naturalista, vegetariana. Não como carne, frango, peixe, tenho uma horta, planto legumes e frutas em casa, tomo água e pratico capoeira há anos, pois moro em uma chácara. Em casa ninguém mata uma formiga, nada.  Até as cobras quando aparecem, pegamos com a mão e devolvemos para o mato.

(LA) -Com tantos desafios dos tempos modernos o que você recomenda para as pessoas viverem em equilíbrio?

(MB) – Viver a vida com intensidade, pois hoje poderá ser o ultimo dia de nossas vidas.

(LA) -E o melhor oráculo?

(MB) – Falar a verdade sempre, por mais que doa. Nunca engane seu próximo.

(LA) -Quais são seus projetos para o futuro?

(MB) – Ser feliz. Creio que um projeto com a TV aconteça e existem planos de morar na França em 2009. Sinto que tenho uma grande história a estudar e escrever com Santa Maria.

(LA) -Você não sente que as pessoas chegam para um sacerdote ou condutor de cerimônias buscando mais um terapeuta ou pai?

(MB) – Acho que as pessoas estão muito abusadas. As pessoas aproveitam muito. Querem ter um terapeuta de bolso e sempre desejam tirar vantagem. Tem pessoas que aparecem  em casa sem avisar desejando uma consulta. Tive que colocar um aviso na porta. As pessoas não respeitam a privacidade; onde está a educação?

(LA) -Que mensagem final você deixa para o pessoal do xamanismo?

(MB) – Siga em frente e acredite na sua verdade. Levante a cabeça e não se deixe humilhar. Paz no coração.Lembre-se que o problema acontece na vida de todos; isto  é a vida acontecendo, portanto viva da melhor  maneira possível.

Um abraço angelical aos leitores.

 

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