Coca

Quero compartilhar um pouco do que aprendi com esta planta fabulosa a Erythroxylon Coca – La Cocamama.


Não pode ser confundida com a droga cocaína. No Peru ela é considerada a síntese das Plantas de Poder. Suas folhas até hoje são utilizadas para leitura de um oráculo, por aqueles que tem esse conhecimento. Tanto no Peru, como na Bolívia ( Ipadu) ela tem até hoje uma grande importância como chá, para dores de estômago, cólicas, distúrbios digestivos, para facilitar a digestão, normalizar a pressão, problemas de pele, do aparelho respiratório, da circulação, enjoos, fadiga na laringe.

Também era utilizada para diminuir o apetite. Os incas ao subirem as montanhas, as vezes ficavam dias sem comer, somente mascando folhas, que tiravam a fome e lhe davam mais energia.

Utilizada também como antidepressivo, e como coadjuvante no tratamento de diabetes (regula o metabolismo).
Outras indicações terapêuticas estudadas : acalma inflamações, fortalece ossos fraturados, para tirar o frio do corpo, o pó das sementes tem bons efeitos no sistema nervoso, como fortificante.

No início do Império Inca, eles não conheciam a coca, era um conhecimento indígena. Apenas a Família Imperial fazia uso. A Planta Sagrada, era de uso restrito ao filhos de Inti ( Sol ). Pouco a pouco ela foi se popularizando.
Eram levadas em bolsinhas medicinais juntamente com a lifta ( resina que é utilizada para melhor extrair os princípios das folhas). As sacerdotisas utilizavam como instrumento uma haste que na ponta tinha um beija-flor.Com o bico extraia-se a lifta para ser juntada às folhas.

O velho hábito de mascar coca continua até hoje, principalmente entre os índios, que as usam para afastar maus espíritos e para gerar sonhos.

Ao Deus Inti, divindade suprema, foi consagrado o arbusto da coca, e suas folhas são oferecidas nos rituais e cerimônias.

Em todas as consagrações aos deuses incas, as pessoas levavam em suas bocas as folhas de coca. Eles queimavam folhas para predizer o futuro, jogavam no chão para evocar Viracocha. Os sacerdotes as mascavam para abrir portas do mundo profundo. Introduziam folhas de coca na boca dos mortos, para preservá-los de perigos espirituais, assim como nas sepulturas.

As folhas de coca também eram usadas nos ritos de passagem dos filhos do rei.

No Peru havia um Templo da Coca, onde consagrava-se  La Cocamama, a entidade espiritual das folhas de Coca.

Em Cuzco tive uma experiência gratificante com Edwin Flores ou Küichy. Fomos até o Templo da Serpente para fazermos uma meditação com as folhas de coca.

A Coca é considerada para muitos peruanos como a síntese das plantas de poder. Os incas a mascavam para suportar grandes altitudes, para matar a fome, além de possuir propriedades terapêutica\s.

Conta-se que Machu Pichu tem-na em seu nome: *pichu= ato de mascar a coca.*, muito embora dá-se o significado de “Cidade da Paz”.

*Imagem : www.jaylli.com*

Alguns peruanos dizem que se não existisse a Coca, não existiria o Peru.

Não havia entre os Incas nenhum ritual em que não estivessem presentes as folhas de Coca.  A Coca era oferecida aos deuses, usada para a fins oraculares como as cartas de tarô, pulverizada para estancar feridas e para hematomas.

Segundo Küichy: as folhas são mascadas com a nossa mente, nós deixamos que o líquido se escorra por nossas almas.

As folhas são mascadas, juntamente com uma resina chamada *lifta*.

As sacerdotisas costumavam andar com um instrumento de poder, como uma varinha de mago, confeccionada em prata ou cobre com um beija-flor na extremidade. Através do bico do beija-flor, a lifta era extraída, juntando-se às folhas que serão mascadas.

Küichy começou a cerimônia com os maços de coca enrolados com a lifta, dizendo que antes precisamos acalentar as folhas ( soprar suavemente as folhas ) depois prosseguiu saudando as quatro direções ( pontos cardeais ), pedindo que repetisse junto com ele :

– *Apu Inti* ! ( de frente para o leste, saudando o Sol )

– *Apu Pacha Mama* ! ( saudando ao sul a Mãe Terra )

– *Apú Huaira* ! ( saudando ao oeste )

– *Apú Uno* ! ( saudando o norte )

Em poucas palavras, senti uma vibração violeta. A energia é sutil, traz insight`s, desde que conservemos o silêncio na mente. Ficaria horas e horas em contemplação.

A folha de coca, foi para mim, um aprendizado de interiorização, produzindo um bem estar e despreocupação com o tempo. Foi a religação de algo muito profundo, mas extremamente sutíl. Uma energia feminina, ligada ao masculino ( Sol ) inspirando criatividade, o amor, levando-me a prestar bastante atenção nas belezas da criação.

Quando os conquistadores espanhóis, sob comando de Pizarro, invadiram o Peru, eles queimaram as plantações de coca não respeitando seus fundamentos sagrados. Pizarro mandou queimar o templo da Cocamama, e as plantações, pois observou que isso iria destronar a moral do povo. E foi aí que : *ATENÇÃO*

Dizem que no momento em que as folhas iam sendo destruídas, os sacerdotes incas, fizeram a seguinte maldição :

– Assim como os brancos estão destruindo as folhas de coca, um dia as folhas de coca irão destruir os homens brancos ! (Através das folhas de Coca, e que se produz o veneno chamado cocaína, que mata, destrói e corrompe . Uma maldição peruana, que tem acabado com pessoas e famílias. Essa sim uma verdadeira droga.

Deus não faz drogas, faz plantas. Quem faz as drogas são os homens

 

Comentários de Menkaiká :

” O ato de mascar coca se chama picchar , e a llipt’a é como uma pasta de cor escura, se não me engano feita com cinza de plantas como a quínoa, que usada junto com as folhas extrai melhor as propriedades da planta (caroteno, ferro, cálcio). Achados arqueológicos mostram vestígios de uso das folhas de coca há 2 mil anos a.c.

A coca para os andinos não é considerada droga, pois para eles droga é o que o homem produziu com suas próprias mãos usando uma dádiva da Mãe Terra. Os efeitos medicinais da folha da coca são como de um estimulante, além de melhorar o metabolismo, mal de altura (mal de puna ou soroche), diarréias, dores de cabeça, tirar a fome e ajudar em problemas estomacais. Por ser estimulante e revigorante, as folhas de coca são mastigadas pelos camponeses com o propósito de recarga das energias no duro trabalho empreendido nos campos e nas altitudes.


Os Paqos, sacerdotes andinos, usam uma chuspa, uma bolsinha de tecido ou de pele de lhama para carregar as folhas de coca. Fazem adivinhação através das folhas e também oferendas. A principal oferenda ritual chama-se kintu que compreende em 3 folhas de coca (ou seis ou nove, ou mais, múltiplos de três), sendo que a maior folha é dedicada aos Apus, espíritos da natureza protetores representados nas montanhas e picos andinos. A segunda folha, mediana, é dedicada à Pachamama, mãe terra, nutridora, provedora da vida. E a terceira folha, de menor tamanho, representa a humanidade.

Os Apus (que em quéchua significa Senhores) são respeitados e invocados nos rituais. Entre os eles estão: Apu Salcantay, Apu Ausangate, Apu Willkamayu, Apu Sawasiray, Verônica, Putukusi, Machu Picchu, Huayna Picchu, entre outros.

As folhas de coca também podem ser usadas para troca, para retribuir serviços, como sinal de amizade.

É interessante observar, para quem já teve a oportunidade, as relações interpessoais que se estabelecem através do ato de compartilhar a coca para a mastigação. Esse ato chama-se hallpay. Me marcou muito certa vez  que tive a oportunidade de compartilhar com uma senhora campesina. Eu estava em Q’enqo, numa tarde de sol, lendo, quando passa por mim há alguns metros uma senhora campesina com seus animais. Ela acomodou-se entre as pedras para descansar. Eu estava encantada com as pequenas ovelhas e me aproximei oferecendo à senhora algumas folhas de coca. Por um momento compartilhamos em silêncio enquanto mascávamos a coca, mas esse ato silencioso foi suficiente para que conectássemos a nossa energia de algum modo através da mastigação. Depois conversamos sobre os animais e ela agradeceu as folhas. Essa é uma situação simples, mas um simples ato de compartilhar nos aproximou. Em cada lugar que vamos é muito bonito o ato de oferecernos a coca, é como compartilhar algo sagrado.

A coca é a mais linda oferenda que se pode fazer à nossa Pachamama. ”

 

Por Rosane Volpatto :

” *No coqueo por vicio*

*Ni tampoco poe el juicio*

*Sino por el beneficio* ”

A coca é uma planta da família das Erythroxyles, indígena do Peru (Erythoxylon coca). Ao arbusto conhecido por este nome, os peruanos chamam “ipatú”, podendo atingir de 1 a 3 metros de altura. Uma casca esbranquiçada cobre toda a sua haste. As flores são pequenas e amarelas e o fruto vermelho, oblongo e carnoso.

Em estado selvagem abunda nos Andes até dois mil metros de altura. Os incas exaltavam excessivamente este arbusto e utilizavam-lhe a folha como moeda. Na antiga Colômbia, os sacerdotes do Sol mastigavam e queimavam folhas de coca em honra a divindades.

Os peruanos e bolivianos mascam as folhas, depois do que, dizem, podem resistir não só a maiores fadigas e ao sono, como também aos jejuns prolongados.

Entre os habitantes do vale Calchaqui, na Argentina, achava-se muito arraigado o costume de “coquear”, isto é, mascar folhas de coca.

Os peões não empreendiam trabalho algum sem fazer previamente seu acullico, que é o mesmo que por na boca uma certa quantidade de folhas de coca, as quais misturam llifta.

A coca já cumpriu e ainda cumpre, um grande papel em todas as práticas religiosas e supersticiosas dos peruanos. Por exemplo, quando estão para empreender uma viagem ou um negócio, recorrem a coca do seguinte modo: molham com saliva a folha inteira e a pegam à ponta do nariz; logo dão um sopro forte e olham para o lado que caiu, se para a direita, é sorte, se para esquerda é sinal de desgraça. Raras vezes empreendem algo, se a coca lhe anunciou má sorte.

Antes de empreender qualquer negócio, oferecem coca a Pachamama, a Mãe dos cerros. Quando vão a caça, o caçador faz um buraco no chão, à beira do mato, onde todos depositam uma oferenda de coca, invocando a Pachamama para que lhes seja propícia a caça.

Em viagens pelas montanhas notam-se nas vertentes certos montinhos de pedra em que se encontram folhas de coca, que se sabe, foram ali atiradas pelos viajantes. A estes certos montinhos chamam “Apachetas” e raro é o viajante que lá passa e não tire da boca a folha que mascava, para depositá-la na Apacheta.

Esta cerimônia que tem por fim propiciar-se uma feliz viagem, encontrava-se também entre o povo guarani do Paraguai. Ali, se tinham cristianizados, formavam-se sempre ao pé de uma cruz montinhos que orlavam os caminhos e debaixo dos quais havia um enterrado.

Para os indígenas aymaras e quechuas, a folha da coca é sagrada, como a hóstia dos cristãos. É utilizada em cerimônias sociais e rituais.

Uma lenda nos conta que o Deus do Sol disse ao sacerdote Khana Chuyma:”Sobe esta montanha e encontrarás uma pequena planta com grande poder. Guarda suas folhas com amor e usa-a quando doer teu coração, ou quando tua carne sentir fome e tua mente estiver obscura.Mas quando o conquistador branco a tocar, encontrará veneno para seu corpo e loucura para sua mente.”

A folha de coca contém 0,5% de um produto anestesiante chamado cocaína. A partir do século XIX, os cientistas conseguiram sintetizar a cocaína da coca. Em um primeiro momento, ela foi utilizada por suas propriedades anestésicas. Mas, a partir de 1914, o cocaína foi definida como “droga perigosa” e proibida. Nos anos 60, após a guerra do Vietnam ressurgiu como uma droga popular. A demanda cresceu  e a “máfia da droga” entrou em cena.

 

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