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Entrevistas - Shairy - Taky Samy - Xamanismo

Entrevistas – Shairy – Taky Samy

*Tatiana Costa*: o Shairy é um xamã equatoriano, é um índio de Otavalo, filósofo, possui uma escola para crianças. Ele segue o caminho do coração. Faz curas com musica e com danças.  Fala bastante da sabedoria Takysamy e do Condor Blanco. Viaja o mundo falando e fazendo curas.

Entrevista feita em 2008

Shairy: Primeiramente quero agradecer ao grande Espírito, nosso pai e mãe que nos permite este encontro de corações. Eu falo mais de corações, eu não falo muito da mente porque o tempo da mente racional já passou e agora estamos no tempo cor coração.

Muitas pessoas perguntam: mas o coração pensa, é inteligente? E o que acontece com o cérebro? Como o coração pode ser inteligente, pode pensar? A resposta é simples. O coração tem a capacidade de projetar a consciência cósmica, consciência quântica, enquanto que o cérebro não.

O coração é a fonte da inteligência, porque está administrando nosso sangue e o sangue ao é só um líquido e sim a fonte da Vida. E sendo assim é fonte de tudo. De energia inteligente, de energia de vida. Eu acredito nisso, na consciência e na inteligência do coração. Eu agradeço esta oportunidade de compartilhar com vocês e peço autorização ao grande espírito para que todos possamos falar e escutar mutuamente nesta noite.

Muitas graças por esta oportunidade!

Sempre que inicio uma palestra e ofereço a palavra, sempre falo com os instrumentos pois eles também são outra linguagem. Uma linguagem sutil que vai conectando com nossos corações.

Então vou oferecer Takysamyi, que quer dizer a energia, vibração, a consciência através do som. Através das melodias e vibrações da energia.

Algumas pessoas quando escutam estes sons falam que conseguiram ver os Andes, o Condor, anciãos e anciãs, Isso é Takysamy. Eu sou musico desde os 6 /7 anos de idade. São realizadas diferentes etapas da musica. Para danças, rituais, musicas folclóricas de vários países, Bolívia, Peru, Chile. Dirigi um grupo de danças por 25 anos. Dança indígena, teatro indígena.  Esse grupo se chamou Centro Cultural Indígena de Peguche em Otalo.

Aprendi muita coisa com o grupo. Num grupo se aprende a fazer família, se aprende a preocupar-se por outros companheiros. Casaram-se companheiras com companheiros, tiveram seus filhos que cresceram lá. Seu filhos foram músicos do mesmo grupo, criando uma nova geração de dança e fazendo cultura.

Por isso, nós do equador nos identificamos como o Centro das Culturas Vivas da América. Porque nós podemos tocar instrumentos dos EUA, podemos escutar músicas dos EUA, agora jovens tem muitos jovens nativos de Otavalo que se vestem com roupas de nativos norte-americanos e estão na Europa gravando e vendendo seus discos. Isso para nós é fazer cultura viva. E Otavalo é um centro de intenso intercâmbio de culturas. Faz 8 meses que organizamos (fui um dos organizadores) de um Encontro Intercontinental. Nós o chamamos de “Encontro do Condor e a Águia”.

Nós de Otavalos somos forjadores de uma Nova consciência de Organização, de filosofia indígena. Há 25 anos nós formamos a tese da pluriculturalidade, plurinacionalidade do Equador. Agora passados esses anos, o governo está reconhecendo e elaborando uma nova constituição reconhecendo a declaração do Equador como um país “pluricultural”, plurinacional, pela primeira vez.

Há 25 anos atrás era um sonho para nós. Muitos diziam : “Estes índios estão demasiadamente “por cima”. Eles diziam: Voces são uns índios “igualados”, porque os brancos sempre se consideraram acima dos índios, superiores.

Quando nós falávamos em espanhol eles diziam: “Você é muito culto, fala muito bem o espanhol”. Nós ríamos disso, porque para nós isso não significava ser culto. Falar espanhol e conhecer a cultura branca não significa para nós “ser culto”.

Nós de Peguche organizamos um espetáculo de canta e dança indígena e os brancos
Que viam nossos programas diziam : “Cantem em espanhol, assim podemos entender vocês.

E nos lhe respondemos: “Nós não queremos que vocês nos entendam. Queremos apenas que nos escutem com seus corações”. Necessitamos que fechem seus olhos e nos escutem com o coração.  Não aplaudam! Silêncio! Só nos escutem com o coração!

Eles não gostavam disso, diziam: “Estes índios são extremistas!”

Então eles queriam saber se éramos políticos de esquerda, se existiam brancos nos doutrinando… E nós respondíamos: “Não! Nós falamos apenas com nossa consciência, ninguém está dizendo por nós. Assim geramos a nova política indígena no o Equador.  E eu fui o primeiro Secretário de Assuntos indígenas, pela primeira vez no governo do Equador. Então falar aos políticos brancos sobre a política de desenvolvimento é muito difícil. Quando estive em meu governo, iniciava-se o neo-liberalismo no Equador.

O governo que eu trabalhei estava adotando pela primeira vez o neo-liberalismo com muita força. Os economistas eram neo-liberais. Eles diziam assim:

A estabilidade econômica do país tem que se assentar na macro economia. E eu lhes dizia: ” E os artesãos? E os agricultores? E os indígenas? Por acaso não terão desenvolvimento?

Diziam : Não! Não podemos sustentar a economia do país nesse modelo. Estabilizamos a macro-economia então estabilizamos o país. Depois de 5 anos começavam as bolsas de maior pobreza. De maior pobreza e de pouca riqueza. O Equador ficou quinze anos no neo-liberalismo.

As organizações indígenas nos têm gerado uma Nova Consciência, um novo discurso e política. As organizações indígenas já não estão com uma filosofia de esquerda,  marxista. Agora tem anciãos para realizar cerimônias.

Eu não me sinto ancião mas falo de espiritualidade e de poder indígena .  O movimento indígena do Equador se converteu num movimento que passava por governos, trocava governos.

Eu me recordo claramente de uma grande marcha indígena . Foram vinte e cinco mil indígenas marchando na capital. Um jornalista  perguntou a um indígena muito humilde, com um castelhano mal falado: : “E porque você está aqui? Que respondeu:

“Eu venho tirar este governo ladrão. Nós viemos tirar este governo.”

E, de tarde, nós realizamos a marcha e a noite eu peguei meu caracol (concha de caracol marinho) e puuuuu. Como eu estava tocando as pessoas disseram para mim: “Vá na frente”.

Vai tocando na frente e nós teremos força para caminhar.  Enquanto você toca nós não retrocederemos. Somos fortes!

E…lá fui tocando na frente. Mais ou menos das três da tarde até a meia-noite. A  cada momento, sempre tocando. O som dava força para todos nós.

Até que vi os guardas ficaram esperando e a distancia ia diminuindo a cada passo. Eles estavam armados e falavam: “Voltem…ou disparamos! ”

Mas, naquela altura eu não podia voltar pois eu já estava na área militar, em frente ao exército, e os detrás empurravam os que estavam andando na frente. Impossível voltar.

E, passo a passo mais a frente e ouvindo os avisos para retroceder, senti que à qualquer momento iria sair um disparo. Daí vi que não tinha jeito e pensei : “Ta bom!”. Era a grande situação em que podemos verdadeiramente dizer: “Já não é mais possível voltar!”

E o pessoal de trás gritava: “Toca o caracol…toca. E eu: tu…tu…tututu… e a gente começou a gritar, gritar, cada vez mais gritar. Eu continuei soprando a olhando para o Céu e quando voltei meus olhos “não haviam mais militares”. Eles se foram.

Em seguida fomos ao palácio e depois de duas horas escutamos o governo e falamos ao governo. Esses acontecimentos foram para mudar a minha vida. Isso é outra forma de fazer a espiritualidade em meu pais. Desta forma somos reconhecidos como o maior movimento indígena de toda a América. Com políticas mais claras, trocas, educação bilíngue (onde também trabalhei) há quase vinte anos.

E nestes tempos dou palestras sobre saúde indígena e estou sempre destacando que saúde indígena é voltar a respeitar e a se relacionar e viver com as plantas. Fazer saúde indígena bão para criar “Centros de Saúde”, e sim para que em cada casa haja o conhecimento sobre saúde. Essa é a minha missão!

Porque se chama Takisamy?

Provavelmente vocês já conhecem um movimento chmado Takioncoy, iniciado há quase 500 anos, que data da aproximação dos brancos e trouxeram enfermidades desconhecidas. Entre elas a gripe. Ela foi a maior peste, o  holocausto indígena. Morreram milhões de indígenas. Não só pela forma de morrer como pela psicose da morte. De crer que não era mais possível viver.
De ficar absolutamente indefeso ante essa situação.

É Takioncoy. Taki =melodia, som vibração, canto. onkoy = é enfermidade, doença. Então os cantores chamados Arauwiky, começaram a criar cantos e melodias primeiramente para receber a enfermidade, não brigar com a enfermidade e sim relacionar-se com ela. Cantar a enfermidade, dançar a enfermidade.

Eu pergunto, nos dias atuais o ser humano seria capaz de adotar a mesma estratégia? Com a dengue no Rio de Janeiro as pessoas pensam em mil coisas, menos em criar uma estratégia.

Aquela era a era de Takionkoy, então o canto da esperança de vida através da musica e da dança. Nasce em peru e imediatamente vai se multiplicando a existência de grupos fora do Equador, sobem à Colômbia e também há movimentos no Sul do peru, Bolívia e Argentina.

Takionkoy também era resistência. Resistência à enfermidade. Então muitos irmãos cristão católicos que acreditam ser perseguidos pelo demônio, diziam que nossos cantos era do demônio. Que os índio estavam tendo pactos com o demônio. Portanto proibiram o canto. Tornou-se um canto proibido.  Então Takionkoy se transforma num canto da resistência e da consciência. Com o tempo Takionkoy foi desaparecendo.

Por isso neste novo tempo eu falo de “Takisamy”, que é uma nova energia. A energia renovada. Tenho certeza de que takisamy é a nova linguagem. Ao mesmo tempo em que são realizadas experiências com takisamy são curadas doenças, são curados câncer. Vários casos de câncer e outras doenças que não posso divulgar, pois o sistema vai me perseguir e me questionar e querer me acusar de estar criando uma mentira. Enganando pessoas. O que digo é que quando me perguntam essa melodia serve para fazer meditação. Com esta melodia vocês podem relaxar, para estresse.

Então isto é Takisamy. E fui aprendendo no dia a dia, a experiência mais importante tem sido conhecer pessoas e poder compartilhar dessas experiências no mundo . Faze a entender que as transformações são possíveis, que a cura é possível. Ter fé, de que cada um tem sua própria cura, mudança, renovação. Que isto está conectado com pachacutei. Pacha = tempo, espaço, vida e Kuti= retorno, volta. Não é tempo linear é retornar ao novo tempo. Parece um contra-censo, mas Pachacuti é o Ciclo do grande retorno do Tempo.

Este é o meu caminho e com satisfação digo que é um caminho sem regresso. Assim como é o caminho que andei tocando caracol este é um caminho sem volta. Porque quem tem a consciência de uma missão, não renuncia. Se não cumpre a sua missão…na próxima vem uma missão maior.  É necessário estar pronto para uma nova missão e com satisfação . Graças a esta missão tenho conhecido muitas culturas, muitos corações.

Essa é minha mensagem para vocês, agradeço ao Léo, irmão espiritual, que nos permite esta conexão e que saibamos seguir compartilhando adiante.

Léo: Nos fale um pouco sobre seu caminho, sua missão, iniciação…um pouco sobre o seu mundo, seu povo.

Meu povo se chama Peguche. Antes do idioma quetchua nós já tínhamos um idioma próprio chamado Cara, falado por nossos antepassados. Nossos antepassados, aproximadamente há 2.000 anos, subiram nossas terras desde as Ilhas do Caribe.  através da Baia de Caraquez, Manabi e se adentraram na serra pela Cordilheira de Intac.  O grande centro de irradiação foi na região de Otavalo e Cotacachi.

Peguche significa “cascada sagrada” No nosso povo existe uma cascada (cachoeira) sagrada, muito bonita. Somos um povo de artesãos e cultura, muita música. Se voces forem para Otavalo vão encontrar muita música muitos grupos. Cada grupo grava, pelo menos, um cd por ano e temos mais de 200 grupos. Muitos grupos estão gravando na Europa, Ásia, EUA.

Nossas tradições estão vivas, as duas mais importantes é o “Inti Raymi”, a celebração da Festa do Sol e a outra Pawka Raymi, o florescimento da vida , conhecida também como Carnaval. Também temos Qoya Raymi (Festival da rainha, ligada a Lua) uma festa feminina, a festa da mãe e Qapaq Raymi (Festival magnífico) em dezembro é a festa do encontro da verdade. Todas as festas são ritualizadas. Nós não separamos o ritual da festa . fazemos a dança ritual e também comemos e bebemos, e todas as festas tem um período de sete a oito dias. Dançamos dia e noite, ninguém descansa nesses tempos. Para nós o início do ano é Pawka Raymi o Solstício de Verão.

Alexandre: Você fala muito das músicas e parece que todas elas são espontâneas. Eu quero saber se além do sentimento ela surge com alguma visão, alguma paisagem?

Com certeza! Eu digo sempre que sonho música.Tenho 3 discos e 4 ou 5 músicas foram produzidas no sonho. Eu sonho música. É estranha essa sensação, porque não quero despertar. A parte onírica não e a parte consciente e as vezes ela desaparece e quando desperto fico pensando: “Como era a canção?”. Às vezes penso: depois vou pegar os instrumentos para tocar a música porque agora estou dormindo e a música não está mais lá. A criatividade está no cosmos então ela vem e vai. Você pode pedir e invocar nossos avós, para dar uma representação, falavam dos espíritos da música. Os espíritos da cachoeira, rochas, montanhas, eles falam.

Um noite tive um sonho muito bonito e tão claro que pensava estar acordado . Era a terra que surgia através de uma fumaça, como um fumo de tabaco. Surgiam uma fumaça branquinha que ia tomando forma,  e eu olhava, e saiam de muitas partes. Dessa fumaça saia sons e eu olhava e escutava. Era como uma sinfonia, vários sons, várias melodias simultaneamente. Era um sonho tão estranho. E eu pensava no sonho: como vou elaborar esta música? Como posso aqui fazer uma música, pois eram muitas músicas. Era difícil. Não era somente daqui , eu estava sonhando que estava numa montanha e em forma de fumaça saia dela a musica. E no próprio sonho eu dizia: Huum! Essa é a música! Esta é a criação de nossa música, é assim que nasce nossa música!

Depois do sonho despertei e quis gravar uma canção e prosseguir dormindo e veio uma canção desordenada, não tinha forma porque eram sons diferentes e em outras ocasiões eu sonhei acordado e gravei . Sonho, desperto e gravo. Entendi como a lei a criatividade de nossa música. É Taky Samy.

Fabio: E no momento da cura? A música surge para você ou  já leva algumas canções específicas para a situação.

Boa pergunta! Eu nunca levo música! Só levo os instrumentos. São os sons que fluem de acordo com o estado de consciência da pessoa.  Quanto a pessoa está muito bloqueada a música não flui e então tenho que fazer muito esforço para o instrumento tocar. faz parte da cura da pessoa então eu tenho que fazer um esforço para fluir e quanto flui a pessoa começa a se curar e a pessoa já sai diferente após a musica. Eu não tenho um repertório musical de minha medicina, agora eu tenho que ser respeitosos, eu não posso ter um gravador em minhas consultas, é errado.  Então, muitas e muitas músicas se vão. E também sei que quando precisar da música ela vai estar lá. Então não tenho preocupações, não lamento e nem fico triste se as músicas não mais vierem.

Rosangela: Você poderia me dizer se a cultura é passada para os filhos e netos? A cultura é passada na íntegra ou o branco influencia. Existe uma área específica para isso ou é passado para o país todo ou determinados grupos?

A primeira parte da pergunta:  As transmissoras e continuadoras de nossa culturas são as mulheres. Nós homens trocamos algumas partes de nosso vestuário, e as mulheres não. As mulheres mantem seu vestidos. As mulheres que tem filhos homens vestem seus filhos de acordo com a cultura, os homens menos.

Agora Otavalo é um povo muito intercultural onde vivem muitos estrangeiros, portando há trocas, é impossível manter a cultura pura. Então existem mudanças nos jovens e muitos antropólogos, dizem até que não somos cultura importante. Não! Nós somos indígenas e somos dinamizadores das relações. Acreditamos que o povo que tem  capacidade de inter-relação, tem mais possibilidade de sobreviver. Cremos que um povo muito arraigado tem mais possibilidade de ser absorvido e diante do perigo ser trocado. Essa é a minha visão.

Nós temos ressurgido com nova consciência, por isso cantamos muito as nossas tradições tanto as nossas mulheres como filhos, e vamos preservando nossas tradições e a nossa forma de resistência cultural.

Outra pergunta: Nos Andes é difícil demarcar território. Nós fazemos a troca pela plurinacionalidade, que definimos como demarcação cultural, a identidade das culturas e pratica das tradições e de nossas leis ancestrais. Por exemplo quando pegamos um delinqüente, nós o curamos com urtiga de forma pública. Perguntamos se ele se arrepende, passamos urtiga e água fria e a pessoa tem uma espécie de catarse. Muitos ladrões são brancos em terras indígenas e eles não entendem, eles vêm como tortura, mas para nós é cura. A delinqüência para nós é uma doença.

Na Amazônia e na Costa existem culturas que podem demarcar território, mas o nosso problema é que nosso espaço tem que ser demarcado com o subsolo, mas o governo não permite que se demarque subsolo. Eles dizem: Subsolo é propriedade do Estado, do povo equatoriano, vocês podem ser donos das plantas, das árvores, mas não do subsolo. Então isso é um problema! Agora as organizações indígenas da Amazônia estabelecem que tem que consultar a eles antes de tomar qualquer decisão.

Eduardo: gostaria de saber se quando o sr. vai dormir para ir buscar uma iluminação, se existe um preparo para isso ou simplesmente acontece?

É possível aprender a sonhar e eu falo para as minhas mocinhas que minha mãe era a Mestre.  Não conheço outro Mestre de sonhos como minha mãe. Ela tomava contato com a energia de uma pessoa passando uma vela e três sopros e minha mãe invocava o universo e pedia que os sonhos revelassem a enfermidade das pessoas. Ela podia sonhar por 2, 5, 8, 10 pessoas em uma só noite. Punha dez velas e no dia seguinte as pessoas chegavam cedo para à sua casa para saberem o que foi sonhado. Ela revelava para as pessoas o problema e como tinham que ser curados. É possível a maestria dos sonhos.

Se você sente a importância disso tem que estudar, tem um processo, um ensinamento, se sentir e se conectar bem é possível que encontre um mestre para o que você está precisando, mas se sente que pode… pode, mas tem que saber que é um processo, um ensinamento que pode levar anos, tem que ter paciência e justificar às leis do universo para que você quer essa sabedoria, como vai utilizar essa sabedoria. Então o universo lhe dá.

Léo: Quais são as “plantas mestras” (enteógenos) que seu povo mais utiliza em rituais?

Usamos Ayahuasca para as visões, Tabaco (fumando e bebendo), San Pedro. Usamos também as medicinais, arruda, sangue de dragão (para rins cansados e pulmões – 3 gotas num copo d’água) e muitas outras.

Tem também algo importante sobre a Ayahuasca, ela cura inflamações externas, feridas, etc. As pessoas que tomam Ayahuasca, dificilmente tem gastrite, mas se tem tem que tomar com cuidado. Há tempo atrás usei para curar gengivite. O dente estava praticamente caindo, eu coloquei num algodão e fiz compressa. Tirou a inflamação. Ela purifica a infecção. Usando como um desinfetante e cura sem nenhum problema.

Quase todas as culturas possuem medicina para sonhar, pois sonhar é muito importante. O sonho é uma forma de conectar-se com todos os acontecimentos por acontecer, e isso não é futuro. Há uma diferença de predizer o futuro, existe um ordenamento.  É importante mencionar que o cultivo de plantas é mais para energia feminina. As mulheres são as guardiãs das plantas medicinais e quando você tem sua planta, ela se conecta com você. O espírito dessa planta está conectado diretamente com você. Para outra pessoa ela pode ser outra medicina, mas para você é a certa. Você fala diretamente ao espírito da planta e não a química da planta. O espírito da planta propicia aquilo que você precisa

Laila: Eu gostaria de saber se com essa medicina que vocês estão utilizando se já houve alguma cura de uma enfermidade mental, psicose….loucura…Como você compreende a enfermidade mental? Qual é o limite entre o que vivenciamos no xamanismo? É real ou é uma criação nossa? Um doença mental?

Léo: Na verdade somos todos loucos! (gargalhadas!!!)

Algumas pessoas falam de equilíbrio e desequilíbrio? Mas o que é um e o que é o outro? Quem é que tem autoridade para dar o nome normal ou anormal,  equilíbrio ou desequilíbrio? E Isso é difícil. Nestes tempos, por exemplo, algumas pessoas vieram iniciar o meu caminho onde tomei Ayahuasca por sete dias, dirigido por alguns  “Maestros”. Alguns me davam um copo bem cheio e eu racionalmente pensava: Oooh isso é impossível! Vou cair! Eu dizia: Pode me dar um pouco menos pois tem muito. E o Mestre respondeu: Isso é bom para você! Estou te dando o que você precisa. Tome!

Na primeira vez vomitei bastante . Creio que vomitei até o meu próprio nome. (gargalhadas) . Fiquei até intrigado em ver de onde via tanto vômito, eu não havia comido nada . Creio que vomitava a cada dez minutos. Três ou quatro horas vomitando. Vomitava sentado, parado, encostado…todas as possibilidades de vomitar.

Alguns dizem que a ayahuasca pode causar desequilíbrio mental. Alguns médicos dizem isso. Muitos mestres da Amazônia tomam duas ou três vezes por semana. Eu nunca escutei alguma história deles saírem enlouquecidos.  Agora se você for tomar acreditando que é seu espírito que quer tomar, assim como o Mestre você fica harmonizado, tranquilo cantando. E quando você vê os mestres tomando até dez vezes numa noite e lhes perguntar como pode, ele te responderá: Isto é para os meus espíritos.

Nós estamos num outros caminho, no Caminho do conhecimento e da Medicina. O outros conhecimento racional feito por outros métodos também são válidos. Temos a oportunidade de seguir caminhando onde o nosso coração sente. São outros conhecimentos, outras verdades.

A enfermidade mental pode ser causada por males da cidade, que podem ser curados. Recordo-me de uma senhora indígena em Nova York numa reunião de uma organização panamericana para a saúde, que escrevia sobre saúde indígena, Organização Panamericana para a  Saúde. Um programa de saúde indígena. Ela dizia que muitas vezes o paciente que vinha para curar pela medicina indígena era aquele que a a outra medicina não pode curar. Quando se recebe um diagnóstico de que a cura não é mais possível, então vão lá. Vão até onde tem um xamã curador. E muitos são curados. E alguém pergunta: E como curou? E a resposta: Com urtiga! Com muita urtiga! Fiz a ele uma manta de urtiga.

Eu digo que toda a enfermidade é possível de ser curada. Toda! Nossos avós diziam que a enfermidade é um desequilíbrio. Tem que curar tem que equilibrar. Eu já vi sim casos de curas de enfermidades mentais. E com energia pura. Há muitos casos de pessoas que são curadas de enfermidades mentais com Ayahuasca.

Léo : Depressão por exemplo?

Absolutamente!  Pode-se tomar Ayahuasca, mas a pessoa tem que receber o “Espírito da Ayahuasca” senão ela não se conecta com a medicina. Como se conecta através da fé.

É possível fumam o Mariri (Cipó) e se conectar com o Espírito da Ayahuasca, sem tomar?

Há pessoas que se conectam com o espírito da planta, até sem fumar, só tocando, sugando. Os espíritos também sentem, se a planta foi cortada com violência, ou no tempo correta, passando por mãos inadequadas…tudo faz com que a vibração da Ayahuasca seja muito positivas ou até negativas, pois são espíritos vivos.

Léo: Seu povo adiciona outras plantas na Ayahuasca além do cipó e da folha ?

Depende para o que eles querem, para sonhar, ter visões, para limpar, para cura. eles a preparam de acordo com a necessidade. Misturam algumas outras também.

Luciana: Como é a cerimônia da Ayahuasca lá no seu povo?

É uma cerimônia de cura. É feita de quarta e sexta. Eles observam qual é a melhor lua. Começa geralmente às 21:00h, começa a servir Ayahausca e depois começam as preces, a chamar a medicina isso dura até mais ou menos uma hora, depois o mestre toma e vão deitar.

A sessão de cura começa geralmente uma hora da madrugada. Nesse momento ele pergunta as condições de cada um e de acordo com os relatos ele vai ministrando a cura que dura uns 30 minutos.   Depois ele purifica com plantas e culmina com muita fumaça (defumação) . depois os mestres determinam quantas sessões você deve voltar.

O mestre tem outras medicinas complementares, mas qualquer que seja a situação o centro da medicina é a Ayahuasca. E vai até as seis ou sete da manhã.

Luciana: Nas cerimônias da madrugada é mais silêncio ou tocam músicas?

Todos os mestres tocam tambor, instrumentos, cantam. Sempre fazem isso para os espíritos. Para acalmar os espíritos e que eles fiquem muito contentes para curar. Existem os espíritos que atacam e os que protegem, então, para que os protetores façam um escudo. Cantam, porém somente os mestres. Eles não permitem que as outras pessoas cantem.

Léo : E as folhas de coca?

Infelizmente aqui no Equador a Coca se erradicou violentamente. Agora, tem quem recebe do Perú e da Bolívia.

Rosangela: Eu gostaria de saber se na sua tradição existe uma iniciação, por exemplo o animal guardião e se vocês iniciam pessoas de fora que queriam adquirir esse conhecimento…

Eu era muito resistente em aceitar pessoas que queriam ter o meu conhecimento. Eu acreditava que não tinha nada para ensinar. Eu tenho para mim, mas há muitas pessoas que estão iniciando.

Tive a minha iniciação  com uma forte crise emocional, no âmbito profissional que durou 3 anos e tive resistências também,  comecei a sentir que este novo caminho não era para mim, não querida, e quando resistia a crise piorava. Houve um tempo em que senti que estava preso num círculo negro e que não podia sair. Tive que fazer minha conexão, muitos banhos em cachoeiras, com objetivos de cura e comecei a conectar com pessoas, as mensagens tornaram-se claras. Quando uma pessoa sente tem que tomar decisão e tem que aceitar porque não se pode desistir. Isso eu aprendi. Não se pode dizer não, pois é o seu conhecimento e a ordem. Aqui não tem livre-arbítrio.

Assim eu recebi. Eu era advogado, político, deixei isso e aceitei incondicionalmente. Tem que aceitar incondicionalmente. Porque é uma dádiva divina e sendo assim não é mal. Não adianta entrar só com um pouquinho para ver se gosta. Não! Se aceitou é incondicionalmente. E aí se abre toda a dádiva. Mas se eu quero só provar se gosto ou não, então não vou ter toda a dádiva. Não dá para ficar sempre só com um pouquinho.

Portanto se me ofereço todo incondicionalmente, se abre todos os presente, tudo para você. Um dos problemas para mim era a forma que iria me alimentar, pois precisava de dinheiro. Como poderia viver disso? Vestir-me? Como posso viver bem sem dinheiro?

Digo-lhes que se fosse pela minha profissão eu não poderia vir aqui  nem uma vez por ano. Não poderia sair de meu país. Eu agora viajo quatro ou cinco vezes ao ano para a Europa, estados Unidos. Como? Não importa!  Viajo! Então esse é um presente.

Há animais que vão e vem. Animais que voltam para cada necessidade. Eu comecei com um Condor Branco. por isso minha sabedoria se chama “Condor Blanco”. Nos EUA me conectei com o Corvo. Ele entrava na minha casa, passava pela minha cama.  Teve a serpente, que para alguns é um demônio. A serpente é muito poderosa e muito íntima da ayahuasca. Um mestre que tem uma Serpente é muito poderoso. Depois eu me conectei com o Colibri, Águia, Urso Polar. Os mestres também passam animais de proteção. Um me deu um Jaguar.

Minha mensagem é :

Vocês e nós, vocês e eu, estamos aqui neste tempo conscientemente.  Nós somos a casualidade e somos castigados com as crises da vida? Não! Nós somos espíritos puros, divinos, que passamos por experiencias da vida como ensinamentos . Temos que passar pelas dores e problemas para aprender a viver. Tudo isso é a maestria. É necessário que nós apredamos a aceitar os presentes, as dádivas. Os presentes são os novos ensinamentos, a nova consciência, fazem com que cada pessoa tenha a certeza de que pode ser seu próprio mestre. Seu próprio mestre de cura, seu próprio mestre guia para ajudar a guiar outras pessoas.

Eu tenho a medicina do amor, porque sinto que este planeta precisa ser amado. Pachamama (Mãe Terra) precisa ser amada. Nós podemos amar e curar. Eu falava com minhas irmãs que podemos curar o planeta. A ideia de que as decisões políticas dos estados ou tratado de Kyoto irá solucionar os problemas é absolutamente falsa. Os tratados não irão curar. O fato dos EUA mudar a sua política e emitir menos poluentes é falso. Absolutamente falso. Isso é fazer uma vez mais crer que só os grandes governantes podem acabar ou curar o planeta . Nós temos a capacidade e a missão de curar o planeta. Como? Através do nosso amor. Através do perdão, perdão pelas nossas próprias ações, ao invés de pedir pelos demais. Perdão por aqueles que estão contaminando, ganhando. Tudo está conectado! Não só no planeta como em todo o Universo. Tudo está interconectado por tudo. Existe a lei da ressonância, se todos nós pensarmos positivamente há ressonância em qualquer ponto do planeta. Isso é possível, temos essa capacidade.

Cada um de nós tem a capacidade de curar Pachamama, e todos temos essa missão.

Muito obrigado à todos !

 

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