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UNIVERSO XAMÂNICO - Xamanismo

UNIVERSO XAMÂNICO

O QUE É XAMANISMO?

Léo Artése

A BUSCA DE UMA DEFINIÇÃO

Atualmente quando a maioria das pessoas ouvem a palavra xamanismo pensam em culturas indígenas americanas, outros reclamam por que não pajelança se estão no Brasil. Sempre considerado como um programa de índio.

O xamanismo não se refere apenas à espiritualidade indígena. É certo que os indígenas foram os grandes responsáveis por manterem acessas as chamas da Medicina da Terra mas as práticas se originaram no homem primitivo, no paleolítico.

A palavra tem origem siberiana e não americana e é usada hoje como uma forma única para descrever as práticas no mundo todo. Ou seja, as práticas são universais, é um legado do Mundo Espiritual para a Humanidade. Não pode haver fronteiras.

A palavra xamanismo foi criada por antropólogos (ver em xamã) para definir um conjunto de crenças ancestrais. Para mim é um caminho de conhecimento. Nós podemos perceber traços do xamanismo em várias religiões.

As raízes do xamanismo são arcaicas e alguns antropólogos chegam a pensar que elas recuam até quase tão longe quanto a própria consciência humana. As origens do xamanismo datam de 40.000 a 50.000 anos, na Idade da Pedra. Antropólogos têm estudado xamanismo nas Américas; do Norte, Central, Sul. Também na África, entre os povos aborígines da Austrália, Esquimós, Indonésia, Malásia, Senegal, Patagonia, Sibéria, Bali, Velha Inglaterra e ao redor da Europa, no Tibet onde o xamanismo Bon segue a linha do Budismo Tibetano, ou seja, em todos os lugares ao redor do mundo. Seus traços estão presentes nas Grandes religiões.

Religião da Idade da Pedra

Piers Viebsky em “O xamã”, cita que em 1991 foi encontrado o corpo mumificado de um homem preservado sob as neves dos Alpes Austríacos. Foi apanhado por um temporal ao cruzar um desfiladeiro da montanha há cerca de cinco mil anos. Poderia ser de um pastor (de ovelhas) mas as tatuagens na pele, um disco de pedra numa correia e alguns musgos secos medicinais encontrados em sua posse permite a suposição de que era um xamã numa viagem ritual.

Muito antes de ter sido descoberto esse “homem do gelo”, no princípio do sec. XX, foram encontradas pinturas rupestres pré-históricas, no Sul da França, de figuras semi-humanas, semi-animais entre animais comuns, que foram consideradas como representando xamãs e que conduziram a suposição de que o xamanismo foi a religião humana original e primordial.

Numa das gravuras um homem com o falo ereto está deitado ao lado de um bisonte com uma cabeça de pássaro ao seu lado; o próprio homem parece ter a cabeça de pássaro e presume-se que a gravura represente um xamã em transe. Essa interpretação foi popularizada na década de 60 por Lommel num livro profusamente ilustrado, Shamanism: The Beginnings Of The Art.

A figura da gruta de Les Trois Frères nos Pirineus franceses que foi chamada de Feiticeiro Dançador, é considerada por alguns estudiosos como representando um xamã. Uma criatura masculina vista de perfil olha de frente para quem a contempla com os seus olhos muito redondos. Todas as partes da sua anatomia parecem pertencer a um determinado animal: orelhas de lobo, chifres de veado, rabo de cavalo e patas de urso. E no entanto o efeito geral é notoriamente humano. Outra interpretação possível é a de que represente um espírito Senhor dos Animais personificando simultaneamente a essência de todas as espécies.

O primeiro tratado vem da Sibéria (altaicos, iacutes, buriatas, tungues, vogul, samoiedos, etc.). Uma fonte acredita que os homens/xamãs teriam emigrado durante as grandes glaciações seguindo rebanhos de renas. Eles passaram pelo estreito de Bering ou por uma ponte terrestre que ligava os dois continentes e se espalharam pelo mundo.

Encontram-se fenômenos xamânicos similares entre os esquimós, índios das Américas; do Norte, Central e Sul; Oceania, Austrália, no sudeste asiático, na Índia, no Tibet e na China. Trata-se de um conjunto de práticas evidentemente adaptadas a cada cultura, a cada crença, mas que em toda parte apresenta o mesmo conteúdo mágico, religioso e simbólico. Faz pensar que todos vieram de uma mesma fonte de conhecimento.

Sintetizando, o xamanismo é a “Jornada da Consciência”, um legado da humanidade além das fronteiras dos países, credos, raças, filosofias. Xamanismo Universal não significa uma classificação nova no xamanismo, o xamanismo é universal. A premissa básica é o reconhecimento que todos fazemos parte da Família Universal e tudo está interligado. O praticante compreende o Espírito Essencial que está dentro dele mesmo, na natureza e em todos os seres. O praticante sabe quem ele é e como se relaciona com o Universo.

No sentido do “religare” pode ser considerada uma religião, mas o xamanismo não é como um conjunto de ritos específicos que seguem seus mestres máximos como cristianismo (Cristo), budismo (Buda), islamismo (Maomé), Taoísmo (Lao-Tsé), etc; cujas práticas são determinadas e iguais e que possuem seus Livros Sagrados de conduta em todos os lugares do mundo.

Na essência são práticas religiosas. O xamanismo se insere de acordo com a crença espiritual/religiosa local, é um fenômeno religioso. Pode-se dizer que as religiões representam um xamanismo adaptado e afetaram as tradições xamânicas continuadas ou marginalizadas nas culturas que dominaram. As práticas, os mitos, as entidades dependem da tribo, linha, geografia, crenças.

O xamã é sempre uma figura dominante e não um santo,avatar ou profeta. Ele é um intermediário entre o mundo espiritual, natureza e a comunidade.

A Medicina da Terra é derivada de conhecimentos medicinais passados pelos ancestrais que são honrados por aqueles que recebem a iniciação. O clichê mais ultrapassado é aquele em que o iniciado tenta matar simbolicamente seu iniciador ao invés de honrá-lo. Isso é enfraquecer a raiz pela qual ele foi formado, uma auto-sabotagem espiritual. O entendimento disso faz com que o discipulado crie conscientemente um movimento de afinidade que traz harmonia no resultado.

O “conhecimento” é para todos mas “sabedoria” é para alguns. Por isso acho importante a divulgação do conhecimento e aplicação prática dele pois existe ainda uma minoria que se transforma. É como um garimpo! Entre esses buscadores do conhecimento sempre sai uma pepita de ouro que vai fazer o mundo mais brilhante. Por essas pepitas vale a pena. O coração do verdadeiro iniciado tem que se confortar com isso pois sempre é a minoria. Por outro lado existe um outro fenômeno, algumas pessoas lançam-se à determinadas práticas sem o devido conhecimento e sem as “bênçãos espirituais”, ou seja: ação sem conhecimento. O que pode ser problemático.

Muitos iniciam a caminhada mas poucos atingem as maiores alturas. Este conhecimento não está limitado aos iluminados, é disponível para todos nós dependendo da sinceridade e humildade com que buscamos. Sabedoria xamânica é sabedoria da Mãe Terra e, a cada filho dela, é dado um presente, algum talento especial.

O xamã compreende o Círculo Sagrado da vida e recomenda, ajuda na cura, ensina o que é necessário para o bem da comunidade.Isto significa freqüentemente colocar a comunidade em primeiro plano. O caminho xamânico conduz a um relacionamento de amor com a Mãe Terra. Não é possível praticar o verdadeiro xamanismo sem incluir os cuidados com a preservação da vida de todos os reinos (animal, mineral, vegetal, espiritual) em nosso planeta.

O xamanismo aparece como um reflexo de um Grande Espírito que pode ter vários nomes. É honrado o Criador e todas as suas criaturas, sejam pedras, animais, aves, plantas, peixes, insetos, águas, ventos e outras manifestações da natureza que compartilhamos a existência nesta vida. Essa consciência, esse alinhamento com as forças da natureza, transforma-se em poder de cura e expande habilidades psíquicas através da reconexão com a vida, com o Sagrado, com o mistério da Criação.

O foco das práticas do xamanismo centra-se nos ritmos cíclicos da natureza: nascimento, morte e renascimento, a complementaridade masculino e feminino, o contato pessoal individual com ambiente imediato da terra, com as forças da terra do sol, da lua e das estrelas. Um verdadeiro xamã enfrentou suas sombras e venceu seus medos da insanidade, solidão, orgulho, vaidade, vícios, doença, ao passar por mortes em vida. Depois disso, escolhe tornar-se curador curado, auxiliador, visionário, à serviço das pessoas.

No xamanismo ao redor do mundo podemos ver as similaridades que definem as práticas:

  • A Busca por estados Alterados de Consciência, Vôo da Alma / Êxtase. O xamã é um especialista e um mestre da viagem estática

  • A capacidade de viajar em espírito assumindo a forma de um animal ou ave ou diretamente através daquilo a que chamaríamos de experiência fora-do-corpo. Este vôo mágico é um dos fundamentos do xamanismo.

  • Viagem por mundos paralelos ( Reino dos Espíritos). Mundos invisíveis à realidade ordinária a fim de guiar espíritos e obter conhecimento espiritual.

  • O xamã atua como canal de cura. Tem conhecimento do poder das plantas, pedras, dos espíritos animais e seres da natureza.

  • Devoção à Criação, Sol, Lua, Estrelas. Reconhecimento da presença de Deus em todas as manifestações do Universo.

  • Interação com espíritos da natureza.

  • Utilização de instrumentos de poder para induzir ao transe /estados alterados de consciência (tambores, maracás, etc).

  • Conhecimento sobre o fogo.

  • Utilização de plantas (purificação, enteógenas, medicinais, magnéticas).

  • Canções de Poder.

  • Danças.

  • Respiratórios e dietas.

  • Contação de histórias, preleições.

O Xamanismo como a mais antiga prática espiritual da humanidade tem como base em suas práticas o respeito pela ecologia, reconhecimento do Sagrado, necessidade de expandir a consciência e obter resposta em mundos paralelos, prática do amor incondicional . Suas práticas estabelecem contato com outros planos de consciência a fim de obter conhecimento, poder, equilíbrio, saúde. Propicia tranqüilidade, paz, profunda concentração, estimula o bem estar físico, psicológico e espiritual.

A interação harmônica dos elementos equilibra a Jornada da Nossa Alma, faz girar a Roda da Vida em harmonia. No xamanismo praticado na atualidade estudamos os talentos elementais:

  • A Terra é relacionada com o corpo físico e com as sensações.

  • A Água é relacionada com a alma e com as emoções e sentimentos.

  • O ar é relacionado com a mente e aos pensamentos e idéias.

  • O fogo é relacionado com o espírito e associado à consciência, a claridade, a inspirarão.

O reconhecimento do caminho da verdade vem da expansão da consciência e a compreensão de que o verdadeiro poder está dentro de cada praticante e provém do desenvolvimento de seus próprios dons. Inspirados na sabedoria dos povos ancestrais temos o desafio de resgatar o conhecimento acumulado nas práticas xamânicas das diversas tradições do planeta para os dias atuais. Assim, pretendemos contribuir para a saúde, autoconhecimento e o bem-estar geral do nosso povo e resgatar valores para uma vida mais harmônica e ecológicamente correta.

Os ancestrais xamânicos viviam em harmonia e equilíbrio com todos os seres, pedras, plantas, animais, pássaros, peixes e até insetos.Para garantir sua sobrevivência em ambiente hostil os homens primitivos interpretavam os sinais e as mudanças da natureza a seu redor. Viviam de acordo com os ciclos do Sol e da Lua, das mudanças das estações, manifestações da natureza, vento, chuva, etc.

Os caminhos do xamanismo são espirituais. A prática xamânica compreende a capacidade de entrar e sair de estados de consciência, de realidades não-ordinárias Os estados alterados de consciência não envolvem apenas o transe e sim a capacidade de viajar na realidade incomum com o objetivo de encontrar espíritos animais, plantas, mentores, obter insights, promover curas, oráculos.

Os estados alterados de consciência incluem vários graus. Stanley Kryppner chega a classificar vinte estados diferentes de consciência. Elíade fala do êxtase, Castañeda fala do nagual. Nirvana, samadhi, alfa, transe, satori, consciência cósmica, supraconsciência, etc.,também são nomes para a mesma manifestação.

São através desses estados que conseguimos conexão com nossos mitos, símbolos, nossa verdade interior. Conseguimos expandir a percepção para mistérios que estão guardados em nós mesmos. Aprendemos a sentir, ver e ouvir a energia.Nos religamos com o Sagrado e com a fonte criativa de tudo o que nos acontece. Através da consciência ordinária não conseguimos alcançar níveis profundos do nosso ser. Existem diversas técnicas ou rituais para se chegar a estados mais profundos de consciência, dentre elas: tambores, danças, jejuns, plantas de poder (enteógenos), respirações, posturas corporais, e outros.

Através desses estados especiais alcança-se uma experiência divina, acessa-se uma fonte de Sabedoria Superior, podemos curar nosso corpo, nos conhecemos melhor através das visões, expandimos a nossa consciência. Aprende-se as influências e forças da Terra e como as energias naturais afetam a vida. Tudo na natureza cresce e muda. É um ciclo. Os povos antigos consideravam a viagem circular da Terra ao redor do Sol, uma roda, representando o eterno ciclo de nascimento e desabrochar, crescimento e florescimento, maturidade e frutificação, envelhecimento e decadência, morte e decomposição e novamente renascimento, refletido na vida humana e na natureza.

Os nativos reconhecem o círculo como o principal símbolo para o entendimento dos mistérios da vida. Observaram que ele estava impresso em toda a natureza. O homem olha o mundo através dos olhos que é um círculo. A Terra, a Lua, o Sol, os planetas; são todos circulares. O nascer e o por do Sol acompanham um movimento circular. As estações formam um círculo. Os pássaros constroem ninhos em círculos, animais marcam seus territórios em círculos. As cabanas, ocas, tipis são circulares.

O xamanismo resgata a relação sagrada do homem com o planeta. O resgate dos festivais sazonais (Solstícios e Equinócios), por exemplo, não marcam apenas a jornada do Sol, mas também os pontos críticos das estações, o ciclo agrícola, nossas emoções, hábitos. Essas “Forças Verdadeira acessadas desde o princípio na história espiritual da Terra, são resgatadas através dos séculos e podemos sentí-las atuando em todos os momentos das cerimônias.

Podemos sentir a ligação profunda que a natureza tem com a vida, nos tornarmos parte de uma comunidade global, propomos o Vôo da Consciência em busca de novos horizontes, de novas conquistas, de um novo ser, de uma nova vida. O início de uma vida pautada na sabedoria encontrada nas folhas, nos movimentos dos ventos, no poder transformador do fogo, nos espíritos ancestrais, na jornada da alma, na missão.

As religiões do mundo moderno não têm tempo para a ecologia espiritual assim como a cultura e o modelo de pensamento consumista atuante. As Grandes Religiões inspiram e apontam para uma vida eterna fora deste planeta e pouco se preocupam em honrar as realidades do espaço sagrado em que vivemos. Atualmente muitos vivem com uma sensação de separação, isolamento, um sentimento de que deva existir um sentido maior na vida. Os rituais xamânicos podem trazer a consciência de somos apenas um “microcosmo”, que somos parte de “algo maior”, que somos filhos da Terra, parte de uma Terra Viva.


MIRCEA ELÍADE

Desde o início do século, os etnólogos se habituaram a utilizar como sinônimos os termos xamã, medicine-man, feiticeiro e mago para designar certos indivíduos dotados de prestígio mágico-religioso encontrados em todas as sociedades primitivas. Por extensão, aplicou-se a mesma terminologia ao estudo da história religiosa dos povos civilizados e falou-se, por exemplo, em xamanismo indiano, iraniano, germânico, chinês e até babilônico para referir-se aos elementos “primitivos” encontrados nas respectivas religiões. Por várias vezes, tal confusão só pode prejudicar a compreensão do fenômeno xamânico em sí. Se por “xamã” se entender qualquer mago, feiticeiro, medicine-man ou extático encontrado ao longo da história das religiões e da etnologia religiosa, chegar-se-á a uma noção ao mesmo tempo complexa e imprecisa, cuja utilidade é difícil de perceber, visto já dispormos dos termos “mago” e “feiticeiro” para exprimir noções tão díspares quanto aproximativas, como as de magia ou mística primitiva.

Consideramos útil limitar o uso de vocábulos “xamã” e “xamanismo”, justamente para evitar equívocos e enxergar com maior clareza a própria história da magia e da feitiçaria. Pois – é preciso deixar claro – o xamã é, ele também, um mago e um medicine-man : a ele se atribui a competência de curar, como aos médicos, assim como o de operar milagres extraordinários, como ocorre com todos os magos, primitivos e modernos. Mas, além disso, ele é um psicopompo e pode ainda ser sacerdote, místico e poeta. Na massa indiferenciada e “confusionista” da vida mágico-religiosa das sociedades arcaicas considerada em seu conjunto, o xamanismo – tomado em seu sentido estrito e preciso – já apresenta uma estrutura própria e revela uma “história” que é da maior utilidade esclarecer.

O xamanismo stricto sensu é, por excelência, um fenômeno religioso siberiano e centro-asiático. A palavra chegou até nós atravérs do russo, do tungue saman. O xamã é sempre uma figura dominante, pois, onde a experiência extática é considerada a experiência religiosa por excelência, é o xamã, o grande mestre do êxtase. Uma primeira definição desse fenômeno complexo, e possivelmente a menos arriscada, será : xamanismo = técnica do êxtase.

Se tomarmos o cuidado de diferenciar o xamã de outros magos, o xamanismo aponta para uma “especialidade mágica ” específica : o “domínio do fogo”, o vôo mágico, o especialista em um transe quando a alma deixa o corpo para realizar ascenções celestes ou descensões infernais. Distinção do mesmo gênero se faz necessária para especificar a relação do xamã com os seres “espíritos”. (espíritos da natureza, mortos, animais, etc.)

Teremos a oportunidade de encontrar o xamanismo no interior de um número considerável de religiões, pois ele é sempre uma técnica do êxtase à disposição de certa elite e constitui de algum modo a mística da religião em questão.

O xamã é o grande especialista da alma humana, pois conhece a sua forma e o seu destino. è sempre útil lembrar, quando se estuda o xamanismo, que este contempla certo número de elementos religiosos particulares e até “privados” e que, simultaneamente, está longe de esgotar a totalidade da vida religiosa do restante da comunidade. O xamã inicia sua nova vida, a verdadeira, com uma “separação”, com uma crise espiritual que certamente não está desprovida de grandeza trágica nem de beleza.

O xamanismo é precisamente uma das técnicas arcaicas do êxtase, ao mesmo tempo mística, magia e religião, no sentido amplo do termo.


MICHAEL HARNER

O xamanismo é uma grande aventura mental e emocional, onde tanto o curandeiro como o paciente ficam envolvidos. Através de sua heróica viagem e de seus esforços, o xamã ajuda seus pacientes a transcenderem a noção normal e comum que tem a cerca da realidade, inclusive a noção de sí próprios como doentes.

Xamã é uma palavra da língua dos povos Tungus da Sibéria e foi adotada amplamente pelos antropólogos para se referirem a pessoas de uma grande variedade de culturas não ocidentais, que antes eram conhecidas por palavras tais como : bruxo, feiticeiro, curandeiro, mago, mágico, vidente.

O xamã é um homem ou uma mulher que entra em estado alterado de consciência – quando quer – para ter contato com uma realidade habitualmente oculta, usando-a para adquirir conhecimento e poder, e com isso ajudar, ajudar outras pessoas. O xamanismo costuma ter, pelo menos, um – quase sempre mais do que um – “espírito” a seu serviço pessoal.

O xamanismo representa o mais difundido e antigo sistema metodológico de tratamento da mente e do corpo que a humanidade conheceu. Dados arqueológicos e etnológicos dizem que os métodos xamânicos tem pelo menos trinta mil anos. É bem possível que esses métodos sejam ainda mais antigos porque afinal, primatas que poderiam ser chamados de homens estiveram neste planeta por mais de dois ou tres milhões de anos.

Os xamãs dedicam-se especificamente à cura, mas também tratam e adivinhação, vendo o passado, o presente e o futuro para outros membros da comunidade. O xamã é um vidente. O xamã muda de uma realidade para outra, um magnífico atleta dos estados alterados de consciência voltado para feitos míticos.

No xamanismo, a manutenção do poder pessoal é fundamental para o bem estar. A prática do xamanismo exige auto-disciplina e dedicação. O xamã é capaz de mover-se entre os diversos estados de consciência.

O conhecimento xamânico verdadeiramente importante é o que se experimenta, não pode ser obtido a partir de um outro. O xamanismo é uma estratégia de aprendizado pessoal e de ação segundo esse aprendizado.

O xamã é uma pessoa que trabalha em Estado Xamânico de Consciência ( estado extático, transe, estado transcendente – onde a pessoa percebe uma “realidade incomum”.) e deve conhecer os métodos básicos para realizar esse trabalho​.


ALIX DE MONTAL

O xamã não é apenas um pesonagem dotado de poderes estabilizadores e transcendentes, de algumas longínquas sociedades primitivas. Ele já não é visto sómente como um técnico do êxtase, ligado ao sobrenatural e às entidades demoníacas. Seu caminho interior participa da mesma febre mística atemporal que caracteriza a mais assídua das buscas religiosas. E, se na aparência, o caráter mágico do xamã continua a ser sua assinatura, já não se trata simplesmente de um fim a ser atingido, mas do resultado tangível de um formidável poder pessoal adquirido com o tempo por meio da vontade. Esse poder não advém de um domíniol qualquer das pulsações íntimas, muito menos de um combate psicológico travado contra nós mesmos.

A dualidade xamânica é exercida entre o homem e a natureza – mais precisamente, entre o mundo e à idéia que o homem faz dele. E através do transe extático, manifestação última e espetacular de sua implicação no mundo, que o xamã rompe essa defasagem temporal e ilusória. Seu universo é um mundo simbólico, ao qual, paradoxalmente, ele atribui mais poder do que à propria realidade.

O xamanismo é um scerdócio que requer não não só verdadeira mística da faculdade mágica, mas também o envolvimento total de um ser responsável pela alma humana. Ele seria, assim, ao mesmo tempo uma religião sem dogma e uma profissão de utilidade pública, conciliando um conhecimento intuitivo e pessoal com a necessidade de agir.

Enquanto “técnica do êxtase”, o xamanismo é um fenômeno religioso da Ásia Central e Setentrional(povos altaicos, buriatas, samoiedos, iacutes, tungus, voguls, etc) e das regiões árticas norte-européias (lapões). Encontram-se fenômenos xamânicos ssimilares entre os esquimós, indios das Américas; do Norte, Central e Sul; na Oceania, na Austrália, no sudeste asiático; e enfim, na Índia, no Tibete e na China. Trata-se, aqui, de um conjunto de práticas evidentemente adaptadas e amalgamadas a cada cultura, a cada crença, mas que em toda parte apresenta o mesmo conteúdo mágico, religioso e simbólico.

A palavra xamã vem do tungue siberiano saman, aparentando com o sânscrito sramana e com o pali samana, que significa “homem inspirado pelos espíritos”.

O xamanismo deve, pois, ser entendido como a sobrevivência clandestina de crenças ancestrais de que são testemunhas numerosos documentos pré-históricos do Paleolítico (e nada nos impede de pensar que essa tradição é ainda mais antiga).


CARLOS CASTAÑEDA

Trago abaixo uma pequena coletânea de conceitos :

Dom Juan acreditava que os estados de realidade não comum era eram a única forma de apredizagem pragmática e o único meio de adquirir poder. Segundo Dom Juan o objetivo do estudo é tornar um Homem de Conhecimento. Para isso 7 conceitos :

1. Tornar-se um homem de conhecimento era questão de aprendizagem.

2. Um homem de conhecimento tem um propósito inflexível

3. Um homem de conhecimento tem clareza de espírito

4. Para ser um homem de conhecimento é preciso um trabalho exaustivo.

5. Um homem de conhecimento é um guerreiro

6. Um homem de conhecimento é um processo incessante.

7. Um homem de conhecimento tem um aliado.

Esses sete conceitos são temas. Percorrem o ensinamento, determinando o carater do conhecimento. O Homem de conhecimento, porém, não era um guia de comportamento, e sim uma série de princípios que abrangiam todas as circunstâncias fora do comum pertinentes ao conhecimento que era ensinado.

Dom Juan me ensinou feitiçaria, mas não feitiçaria como entendemos a partir do contexto do nosso mundo cotidiano : usar poderes sobrenaturais sobre os outros, ou atrair espíritos através de encantamentos, rituais ou feitiços visando produzir efeitos sobrenaturais. Para Dom Juan, feitiçaria era o ato de incorporar alguns princípios especializados, teóricos e práticos, sobre a natureza e o papel que a percepção representa em moldar o universo ao nosso redor.

Em obras de antropologia, o xamanismo é descrito como um sistema de crenças de alguns povos nativos do norte da Ásia – predominando também entre certas tricos de índios da América do Norte – que afirma a existência de um mundo invisível de antigas forças espirituais, boas e más, ao nosso redor; forças espirituais que podem ser invocadas ou controladas através de atos dos praticantes, que são os intermediários entre os reinos natural e o sobrenatural.

Dom Juan era de fato um intermediário entre o mundo natural da vida cotidiana e um mundo invisível, que ele não chamava de sobrenatural, e sim de segunda atenção. Seu papel como professor era tornar acessível a mim essa configuração que os feiticeiros chamam de segunda atenção.

Dom Juan afirmava que nosso mundo, que acreditamos ser único e absoluto, é apenas um meio a um conjunto de mundos consecutivos, arrumados como as camadas de uma cebola. Dizia, que apesar de sermos energéticamente condicionados a perceber sómente nosso mundo, ainda temos a capacidade de entrar nessas ” outras regiões” – que são tão reais, únicas, absolutas e envolventes como nosso mundo.

Acreditando que somente nosso condicionamento energético nos impede de entrar nessas “outras regiões”, Dom Juan afirmava que os feiticeiros da antiguidade desenvolveram um conjunto de práticas destinadas a recondicionar nossas capacidades energéticas de perceber. Chamavam esse conjunto de práticas de ” A Arte do Sonhar ” .

 

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