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O Aprendizado no Xamanismo

O Aprendizado no Xamanismo

O texto abaixo, extraí de Stephen Larsen, do livro Imaginação Mítica – Editora Campus:

O aprendizado do xamanismo e o reconhecimento de sua coerência interna representaram para mim um importante ensinamento pessoal. O conhecimento xamânico é um manual de psicologia visionária; encontrei seus velhos símbolos, desde então, em praticamente todas as tradições religiosas: as crises, a viagem da alma, a transformação pela morte, a vítima involuntária e a festa do sacrifício, o salvador-curador. O vocabulário de imagens e idéias nessa tradição nos ensina uma espécie de língua viva, cuja essência vital nos leva cada vez mais fundo na experiência da vida. Também oferece uma iniciação numa tradição de sabedoria, porque os símbolos nos educam, fazendo surgir sentimentos e valores, e recontextualizando-os de maneira espiritual.

Nos primeiros livros de Castañeda, Dom Juan ensinou a Carlos a arte de ver através de “plantas visionárias”: o cacto peiote, o cogumelo, a datura. O estado alterado substitui a visão secular pela visão espiritual, e a partir desta flui o poder. O psiquiatra Claudio Naranjo estudou esse mesmo processo na América do Sul e verificou que as pessoas modernas que usavam yagé ou ayahuasca realmente viam alguns dos seres míticos tradicionais do xamanismo do índio brasileiro: jaguares espirituais, anacondas e criaturas ainda mais míticas, como a serpente de plumas.

Alguns dos pacientes de Naranjo achavam que tinham adquirido a visão de Raio-X da experiência xamânica. Essa faculdade é igual da América do Sul à América do Norte, da Sibéria à Austrália, e por vezes é alcançada por drogas, outras vezes sem elas. O xamã começa a ver as causas metafísicas da doença, ou outro problema – seja uma flecha de feiticeiro, um espírito da floresta que foi ofendido, um parente morto não devidamente pranteado, ou qualquer coisa.

Mircea Elíade escreve que o angaqoq, a visão mágica do esquimó é uma luz misteriosa que o xamã sente de repente em seu corpo, no interior de sua cabeça dentro do cérebro, um holofote inexplicável, um fogo luminoso, que lhe permite ver no escuro, tanto literal como metaforicamente, pois pode agora, mesmo com os olhos fechados, ver através do escuro e perceber coisas e acontecimentos futuros que estão ocultos aos outros.

Assim, ele vê o futuro e os segredos dos outros.

O visionário-xamã funciona como uma espécie de telescópio psíquico, portanto autorizado pela comunidade a estender sua visão e seu conhecimento.

Os grandes visionários da história são aqueles cuja visão ultrapassou o âmbito reduzido e pessoal; um exemplo notável é o Alce Negro dos Sioux, cuja grande visão pertencia ao destino psíquico de todo o seu povo. A analista junguiana Von Franz observou que um místico como Nicholas Von Flue – profundamente dedicado à pratica da contemplação – era, mais do que qualquer outra pessoa, capaz de ver o melhor caminho para toda a nação suíça em época de dificuldades.

Em última análise, nossa visão mitológica penetrante nos devia transformar não em cínicos, mas em crentes de um novo tipo – na realidade e ubiquidade da experiência espiritual e na interminável criatividade dos seres humanos diante dela.

Essas crenças podem ser verificadas a qualquer momento que desejarmos: os mistérios deste universo se ampliam continuamente com nossa capacidade de simbolizá-los (e nossas idéias e imagens são dispositivos para ver), toda uma psique percebe um universo integrado – quando examinamos qualquer mitologia, encontramos uma tradição de sabedoria entre suas imagens, e os padrões fundamentais dessa tradição não pertencem exclusivamente à nenhuma religião específica, mas são universais.

Minha crença pessoal é que o estudo da mitologia comparada cria uma abertura respeitosa para com a experiência espiritual. Além disso, ao vermos que o herói tem realmente “mil caras”, sentimos um humanitarismo profundo.

E mais importante, talvez, seja o sentimento de uma crescente abertura a todas as tradições sagradas e a um ecumenismo (xamanismo universal!!!!) que deseje ver através de qualquer conjunto de crenças e símbolos, além da superfície e até o sentido interior.

Disse Campbell:

“Não precisamos nem mesmo nos arriscar à aventura sozinhos pois os heróis de todos os tempos foram antes de nós, o labirinto é totalmente conhecido: basta-nos seguir o fio da trilha do herói. E onde tínhamos pensado encontrar a abominação, encontraremos um Deus; onde tínhamos pensado matar outro, matamos a nós mesmos; onde tínhamos pensado viajar para fora, chegaremos ao centro de nossa própria existência; onde tínhamos pensado estar sós, estaremos com todo o mundo”.

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