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1 - Nagi Gluhapi - Xamanismo

1 – Nagi Gluhapi

 

Nagi Gluhapi – A Guarda da Alma
Livro: Black Elk Speaks

 

Com este rito purificamos as almas de nossos mortos e nosso amor pelo próximo aumenta. As quatro mulheres puras que comem a parte sagrada do bisão, como descreverei, lembrarão sempre que seus filhos serão santificados e que, por isso, deverão ser criados conforme o mistério.

A mãe deve sacrificar tudo por seus filhos e desenvolver nela e neles um grande amor por Wakan Tanka, o Grande Espírito, pois com o tempo estas crianças se transformarão em homens de mistério e em guias da nação, e terão o poder de converter em santos aos demais. No início não somente guardávamos as almas de nossos grandes chefes, mas depois começamos e guardar as de quase todos os homens virtuosos.

Guardando uma alma segundo os ritos prescritos, tal como os recebemos de Ptesan Win – A Mulher Bisão Branco, e purificamos afim de que esta alma e o Espírito se convertam em um e para que possa regressar ao lugar onde nasceu Wakan Tanka e já não tenha nenhuma necessidade de errar pela terra, como é o caso dos homens perversos; além disso, a guarda de uma alma nos ajuda a recordar de nossa mortalidade, assim como do Grande Espírito que é além de toda morte.

Quando se guarda uma alma, muitos homens se reúnem na tenda dela para rezar; e no dia em que a alma é liberada todos se reúnem e enviam suas vozes ao Grande Espírito por intermédio desta alma que vai viajar por seu céu sagrado. Mas vou lhe explicar primeiro como nosso povo realizou este rito na sua origem.

Um bisneto de Chifre Oco em Pé tinha um filho ao qual ele e sua mulher gostavam muito; mas chegou um dia em que esta criança morreu, o que entristeceu enormemente a seu pai, que foi a contar seu sofrimento ao guardião do Chanumpa, que naquela época era Chifre Oco Alto.

«Fomos instruídos pila Mulher Bisão no uso do Cachimbo sagrado e na guarda de uma pessoa falecida. Agora a perda de meu amado filho me causa uma extrema tristeza, e desejo guardar sua alma como nos foi ensinado; e visto que és tu o guardião do muito santo Chanumpa, te peço que me instruas. »

«¡How! Hechetu welo! Está bem!», disse Chifre Oco Alto; elos dois foram ao lugar onde repousava a criança e lá estavam as mulheres chorando. Quando chegaram, as lamentações cessaram; Chifre Oco Alto se aproximou da criança e disse:

«Este menino parece morto, mas não está realmente, pois guardaremos sua alma entre nós, e graças a ela nossos filhos e os filhos de nossos filhos se converterão em santos. Vamos agora fazer como a Mulher Bisão e o Chanumpa nos ensinaram. É desejo do Grande Espírito que assim se faça.» E, pegando uma mecha dos cabelos da criança, Chifre Oco Alto rezou:

«Ó Wakan Tanka, nos veja! É a primeira vez que fazemos tua vontade da maneira, como Tu ensinaste através da Mulher Bisão. Guardaremos a alma desta criança para que nossa Mãe Terra leve seus frutos, e para que nossos filhos caminhem pela iluminação da vida conforme o mistério. »

Chifre Oco Alto começou então a purificar a mecha de cabelos da criança; trouxeram uma brasa e colocaram encima um pouco de erva aromática(wachanga).

«Ó Wakan Tanka! rezou de novo Chifre Oco Alto , esta fumaça da erva aromática vai subir até Ti e se estender através do Universo; seu perfume será sentido pelos seres alados, os quadrúpedes e os bípedes, porque compreendemos que todos somos parentes; que todos nossos irmãos animais nos amem e já não nos temam mais!»

Chifre Oco Alto pegou a mecha de cabelos e, a suspendendo sobre a fumaça, a dirigiu para o Céu, para a Terra e para as quatro Direções do Universo; e disse à alma que estava nos cabelos:

«Olha alma! O lugar desta terra onde mores será um lugar sagrado; este centro fará que a nação seja sagrada como tu. Nossos filhos caminharão desde agora pela luz da vida com coração puro e passo firme.»

Depois de purificar a mecha na fumaça, Chifre Oco Alto se virou para a mãe e o pai da criança, e disse:

« Receberemos um grande saber graças a esta alma que acaba de ser purificada. Sejam bons com ela e a amem, porque foi santificada. Cumprimos o desejo do Grande Espírito tal como nos ensinou a Mulher celeste; não recordam de como, ao deixarmos, se transformou a segunda vez? Este gesto representava a guarda da alma que vamos realizar. Que isto nos ajude a recordar que todos os frutos dos seres alados, dos bípedes e dos quadrúpedes são na realidade presentes do Grande Espírito. Todos são sagrados e devem ser tratados como tal. »

A mecha foi envolta numa pele de búfalo e esse precioso saquinho foi colocado num lugar especial da tenda. Em seguida Chofre Oco Alto pegou o Chanumpa e, depois de passá-lo na fumaça, o encheu com cuidado, segundo o rito; e dirigindo a haste para o céu ele rezou:

« Avô nosso, Wakan Tanka, Tu és tudo, e sem dúvida está por cima de tudo! Tu és o Primeiro. Tu o tens sido sempre. Esta alma que guardamos estará no centro do círculo sagrado desta nação: graças a este centro nossos filhos possuirão um coração valente e avançarão pelo reto caminho vermelho segundo o mistério.

Ó Wakan Tanka!, Tu és a Verdade. Os homens que aproximam seus lábios a esse Chanumpa se converterão na Verdade; não haverá neles nada impuro. Nos Ajude a caminhar sem travas pelo caminho da vida, com nossos pensamentos e nossos corações constantemente fixos em Ti! »

Então se acendeu e fumou o Chanumpa, e deu a volta ao círculo no sentido do movimento do sol. Nele, o mundo inteiro foi oferecido ao Grande Espírito. Quando o Chanumpa voltou a Chifre Oco Alto, este o esfregou com erva aromática para cada lado Oeste, Norte, Leste, Sul a fim de purificá-lo, porque poderia ter sido tocado por alguém indigno; e voltando-se para a assistência disse:

Parentes meus, este Chanumpa é um santuário. Todos sabemos que não pode mentir. Nenhum homem que tenha alguma mentira em seu coração pode levá-lo a sua boca.

Além disso, ó parentes meus!, nosso Pai Wakan Tanka nos fez conhecer sua vontade aqui na terra, e devemos sempre cumprir o que Ele deseja se queremos ir pelo caminho sagrado.

É a primeira vez que realizamos este rito da guarda alma, e será de grande proveito para nossos filhos e os filhos de seus filhos. Ó parentes meus, ó Avó e Mãe Terra, somos de terra e pertencemos a Ti! Ó Terra Mãe de quem recebemos nosso alimento!, Tu cuidas do nosso crescimento como fazem nossas próprias mães.

Cada passo que damos sobre Ti deve ser conforme o mistério; cada passo deve ser como uma oração. Se lembrem disto, irmãos e irmãs: o poder desta alma pura os acompanhará em vosso caminho, pois ela também é fruto da Terra Mãe; é uma semente que, plantada em vosso centro, crescerá com o tempo em vossos corações e fará que as gerações caminhem conforme ao mistério.

Chifre Oco Alto levantou as mãos e enviou sua voz ao Grande Espírito:

Ó Pai e Avô Wakan Tanka!, Tu és o início e o fim de todas as coisas.

Pai meu Wakan Tanka, Tu és o Uno que vigia e mantém a tudo o que vive.

Ó Avó minha!, Tu és a fonte terrestre de toda existência.

Mãe Terra, os frutos que levas são a fonte de vida dos povos da Terra.

Tu velas sem cessar por teus frutos, como uma mãe.

Que os passos que damos sobre Ti durante a vida sejam sagrados e sem fraqueza!

Nos ajude, ó Wakan Tanka!, a caminhar pelo caminho vermelho com passo firme.

Que nós, que somos tua nação, possamos estar de pé perante Ti de uma maneira que Te alegre!

Nos dê a força que vem da compreensão de Teus Poderes!

Porque nos foi feito conhecer Tua vontade, queremos caminhar santamente pela estrada da vida, levando em nossos corações o amor a Ti e o conhecimento de Ti. Por isto, e por todas as coisas, Te damos graças.

Então envolveram o corpo do menino em um saco, e os homens o levaram a um lugar elevado e arejado do acampamento; o colocaram sobre um andaime erguido em uma árvore. Quando regressaram, Chifre Oco Alto foi à tenda com o pai da criança para ensinar como devia se preparar para o grande dever que ia cumprir e que o santificaria.

«Guardas agora a alma de teu filho – disse Chifre Oco Alto – Teu filho não está morto; está contigo. Desde já deverás viver segundo o mistério, porque teu filho estará nesta tenda até que sua alma seja liberada. Lembre-se que os costumes que você adotará neste momento nunca deverão ser abandonados. Se assegure de que nenhuma pessoa má entre na tenda onde guardas a alma, e que não haja ali nem discussões nem disputas; a paz deverá reinar sempre em tua tenda. Todas estas coisas têm uma influência sobre a alma que aqui se está purificando.

Tuas mãos estão consagradas: trate-as como tal! E teus olhos também estão; quando olhais teus parentes e a todas as coisas, as olha com os olhos do espírito. Tua boca também está consagrada; que cada palavra que digas reflita este estado de graça no que viverás a partir de agora. Sempre levantarás a cabeça para olhar ao céu.

Cada vez que comer um fruto da Mãe Terra, alimentará igualmente a teu filho. Se fizer isto e tudo o que te ensinei, o Grande Espírito será misericordioso contigo. Dia e noite, teu filho estará contigo; cuida de sua alma todo o tempo, porque assim se lembrará sempre do Grande Espírito. A partir deste dia estás santificado; e igualmente ao que te instruí, tu também instruirás a outros.

O Chanumpa misterioso seguirá seu caminho durante muito tempo, até o fim; o igual acontecerá com a alma de teu filho. É seguramente assim! Hechetu welo!»

Antes de lhes explicar como é liberada a alma, é bom que lhes fale de algumas obrigações que o guardião de uma alma deve conhecer e cumprir.

Quem guarda uma alma não deve combater nunca, nem sequer manejar uma faca com nenhum fim. Rezar constantemente, ser um exemplo em todas as coisas, tal é sua conduta. O povo deve amar e honrar este santo varão, e lhe levar sempre alimentos e agrados: a sua vez, o guardião da alma deverá oferecer com muita frequência seu Chanumpa ao Grande Espírito, para o bem de todos.

Quando um grupo de guerreiros vai caçar, o santo guardião da alma deve lhes acompanhar; mas enquanto os demais caçam, ele deverá ficar com seu Chanumpa e enviar sua voz aos Poderes do alto para que a caça seja boa, e para o bem de toda a tribo.

Se for morto um bisão fêmea em sua proximidade, o animal lhe pertence, e ele deve se sentar a seu lado; deve encher seu Cachimbo, oferecendo primeiro um pouco de kinnikinnik aos Poderes alados do Oeste, do Norte, do Leste e do Sul; depois deve levantar uma última pitada de tabaco para o céu como oferenda ao Grande Espírito, onde estão todos os Poderes.

Uma vez que o Cachimbo estiver cheio deste modo, deve dirigir a haste até as narinas do bisão, e deve rezar assim:

«Ó Wakan Tanka!, Tu nos ensinaste tua vontade por meio de um quadrúpede para que teu povo possa caminhar pela estrada sagrado, e para que nossos filhos e os filhos de nossos filhos sejam benditos.  Tu, Tatanka, tens quatro idades; e quando te virou para nós pela última vez vimos que Tu eras o fruto de nossa Mãe Terra que nos faz viver.

Esta é a razão pela qual serás o primeiro a ser colocado no centro do círculo de nossa nação, Tu és quem fortalece nossos corpos e também nossos espíritos quando Te tratamos segundo a regra celeste.

Graças a Ti, que nos revelou a vontade do Grande Espírito, há agora uma alma santa no centro de nosso círculo. Tu estarás ali com ela, e dali dispersará a felicidade a teu povo. Veja agora este centro!»

Uns homens instruídos pelo guardião da alma despedaçam o bisão assim consagrado, enquanto pronunciam súplicas apropriadas segundo a parte de carne que cortam.

A do cotovelo representa aos bípedes, mas antes de tudo à mulher celeste que trouxe o Chanumpa; esta carne é, particularmente sagrada lilla wakan e não pode ser manipulada sem veneração. O guardião da alma não faz ele mesmo o despedaçamento, já que o contato com uma faca e com o sangue lhe está proibido; mas lhe está permitido levar ao acampamento esta carne sobre seu cavalo, e também a pele, que é igualmente sagrado e está destinado a um uso especial.

Sua chegada ao acampamento é anunciada por um mensageiro, e a carne e levada em seguida para a tenda do guardião da alma. Antes que possam terminar os ritos que liberam a alma devem se reunir muitas coisas, o que pode tomar vários anos; mas a duração normal da guarda de uma alma é de um ano.

Se o guardião morrer antes de terminar este prazo, sua mulher guardará a alma, e também a alma de seu esposo; e se a mulher morrer, os ajudantes serão os encarregados de guardar estas três almas; sua função implica então uma responsabilidade e uma dignidade um tanto maior.

Quando uma alma vai ser liberada, todo o mundo se reúne, porque todos participam neste rito misterioso. Com antecedência, todos os homens caçam bisões, e uma vez mortos vários animais, os ossos são rompidos e fervidos; desta mistura de graxa e medula é feito o wasna; as mulheres secam o melhor pedaço de carne, que recebe o nome de papa. Todos estes preparativos têm um caráter ritual.

Depois de consultar com os demais homens santos da tribo, o guardião da alma indica o dia conveniente para o ritual, e quando este dia chega por fim, os ajudantes constroem com várias tendas uma grande tenda ritual e cobrem o solo com salvia sagrada. O ajudante do guardião da alma então pega o Cachimbo e, o levanta para o Céu, exclamando:

«Olhe, ó Wakan Tanka! Vamos cumprir agora tua vontade. Com todos os seres do Universo Te oferecemos este Chanumpa.»

Pega uma pitada de tabaco ritual, o kinnikinnik, e erguendo-o, ao mesmo tempo em que também ergue a haste do Cachimbo, para o Oeste, exclama:

Com este tabaco consagrado Te colocamos, ó Poder alado do Oeste!, neste Chanumpa vamos enviar nossas vozes ao Grande Espírito e pedimos tua ajuda. Este dia é sagrado, porque uma alma vai ser liberada. Em todo o Universo haverá felicidade e alegria. Ó, Poder celestial do lugar donde o sol de põe, fazemos uma grande coisa ao te colocar neste Chanumpa. Nos dê, para realizar nossos ritos, um dos dois dias sagrados vermelho e azul que Tu controlas!

O Poder do Oeste, misteriosamente agora presente no tabaco, é introduzido no Cachimbo; em seguida o ajudante, levantando para o Norte outro pouco de kinnikinnik, exclama:

Ó Ser do Trovão onde Wazia tem sua tenda, Tu que vens com os ventos purificadores e que conserva o vigor dos homens, ó Águia negra do Norte, tuas asas não se cansam nunca! Para Ti também há um lugar neste Chanumpa que vamos oferecer ao Grande Espírito.

Ajude-nos e nos dê um de teus dois dias sagrados!

Erguendo então outra pitada de kinnikinnik para o Leste, o ajudante continua sua reza:

 

Ó Ser sagrado do lugar onde sai o sol, que controlas o conhecimento!

A Ti pertence a estrada do sol nascente que trás a luz ao mundo.

Teu nome é Huntka; Tu possuis a sabedoria e tuas asas são grandes.

Para Ti também há um lugar no Chanumpa: ajude-nos a enviar nossa voz ao Grande Espírito! Nos dê teus dias sagrados!

 

Assim se introduz o Poder d Leste no Cachimbo; em seguida o ajudante levanta um pouco de kinnikinnik para o Sul, e reza:

 

Ó Tu que guardas o caminho que leva ao lugar para o qual nós voltamos sempre, e por ele caminham nossas gerações, Te colocamos neste Cachimbo de mistério! Tu que controlas nossa vida e as vidas de todos os povos do Universo.

Tudo que se move e tudo que existe enviará uma voz ao Grande Espírito. Temos um lugar para Ti no Chanumpa; ajude-nos a enviar nossa voz e nos dê um de teus dias benéficos!

Isto é o que Te pedimos ó Cisne Branco do lugar onde sempre voltamos!

Em seguida, o ajudante dirige a haste do Chanumpa e um pouco de kinnikinnik para a Terra:

Ó Terra sagrada de onde saímos, Tu és humilde enquanto nutre a todas as coisas;

sabemos que és sagrada e que somos parentes teus.

Avó e Mãe Terra fecunda, para Ti há um lugar neste Chanumpa.

Ó Mãe, que tua nação avance pela estrada da vida, frente a ventos violentos!

Que caminhemos sobre Ti com firmeza!

Que nossos passos não vacilem jamais!

Nós e tudo o que se move sobre Ti estamos enviando nossas vozes ao Grande Espírito!

Ajude-nos! Todos juntos gritamos em uníssono: Ajude-nos!

 

Depois de ter sido cheia desse modo, com todos os Poderes e tudo o que contem o Universo, o ajudante a dá ao guardião da alma, que, entre lamentos, segue para a tenda do guardião do santo Cachimbo. Deposita o Chanumpa, dirigindo a haste para o Sul, nas mãos do guardião:

Esta gente tinha um Chanumpa

Do qual fizeram seu corpo.

O Hon-ga, tenho um Chanumpa do qual fiz meu corpo;

Se tu também fazes dele teu corpo,

Terá um corpo liberado de todo o que causa a morte.

Veja a união do pescoço, disseram,

Fiz dela a união de meu próprio pescoço.

Veja a boca do Chanumpa,

Fiz dela minha própria boca.

Veja o lado direito do Chanumpa,

Fiz dele o lado direito de meu corpo.

Veja o espinhaço do Chanumpa,

Fiz dele meu próprio espinhaço.

Veja o lado esquerdo do Chanumpa,

Fiz dele o lado esquerdo de meu próprio corpo.

Veja a cavidade do Chanumpa,

Fiz dela a cavidade de meu próprio corpo.

Veja o que une o Chanumpa e a haste,

Fiz dele minha traquéia.

utiliza o Chanumpa como objeto em vossas súplicas,

Vossas rezas serão prontamente atendidas.

 

Hi ho! Hi ho! Te agradeço – diz o santo homem ao receber o Cachimbo.

Este Chanumpa que me trazes é na realidade tão sagrado como o Chanumpa original que recebemos da Mulher Bisão Branco. Na verdade, para aquele que compreende é realmente Ele mesmo.

 

Mas o que acaba de me entregar é particularmente sagrado, porque, tal como o vejo, agora contem todo o Universo:

O que desejas?

Desejamos que fumes este Cachimbo e que dirijas os ritos destinados a liberar a alma de meu filho pequeno.

Desejamos que traga o Cachimbo original que tens a teu cuidado.

How, hechetu welo! responde o homem santo; irei

Oferece então o Cachimbo ao Céu, à Terra e as quatro Direções, e fuma. Depois disso recolhe piedosamente as cinzas, porque elas também estão santificadas. Em seguida os dois homens vão para a tenda, onde tudo está preparado para o grande ritual.

Dão a volta em sentido do movimento do sol e se sentam a Oeste, no lado oposto ao da entrada. A esposa do guardião da alma retorna, entre lamentos, a sua própria tenda, de onde trás o saquinho misterioso e, detendo-se frente ao guardião do Chanumpa, deposita a relíquia em suas mãos estendidas.

 

Graças lhe sejam dadas, diz o santo homem; e se dirige nestes termos a alma guardada no saquinho:

Ó alma, estavas com teu povo, mas logo partirá.

Este dia é teu dia, e é sagrado.

Hoje, teu Pai Wakan Tanka se inclina até ti para te ver: todo teu povo veio para estar contigo.

Todos os teus parentes te amam; cuidaram muito de ti. Tu e a santa Mulher das quatro idades que nos trouxe o Chanumpa estais juntas agora nesta tenda; esta pele de bisão que representa a mulher celeste e que te cobria, cobrirá a todo teu povo! O Cachimbo que ela nos trouxe fez feliz a tribo. Olhe!

Este é o dia sagrado! Hechetu welo!

Se traça um circulo perfeito no solo, esse circulo representa um leito de bisão, e nele se coloca o saquinho de mistério. Com a terra que foi tirada deste lugar se forma outro círculo, nele é traçada uma cruz de Oeste a Leste e de Norte a Sul.

O Chanumpa é colocado sobre esta cruz, com a haste apontando para o Oeste e o fornilho para o Leste.

O saquinho misterioso é colocado ao lado do Chanumpa, no extremo da boa estrada vermelha, porque esse é o local para onde, logo, a alma viajará. Um dos ajudantes se aproxima do fogo que há no centro da tenda e com um bastão aforquilhado retira dele uma brasa que coloca diante do guardião do Chanumpa.

Este pega o Cachimbo com a mão esquerda, pega um pouco de erva aromática com a direita, a dirige até o Céu e a abaixa lentamente até a brasa, parando quatro vezes e rezando desta maneira:

Ó Avô Wakan Tanka, neste dia sagrado que é Teu, envio esta fragrância que subirá até o céu.

Nesta erva está a Terra, a grande ilha; nela está minha Avó, minha Mãe e todos os povos quadrúpedes, alados e bípedes, que marcham todos segundo o mistério. O odor desta erva se estenderá por todo o Universo.

Ó Wakan Tanka, sejas misericordioso com todos!

Então o fornilho do Cachimbo segurado sobre a fumaça; esta passa através do Cachimbo (fornilho) e sai pela haste dirigida para o Céu.

Deste modo o Grande Espírito é o primeiro a fumar; através deste ato ritual, o Chanumpa é purificado.

Enquanto faz estas coisas, o guardião reza nestes termos:

Ó Wakan Tanka, Olhe este Cachimbo!

Sendo assim que para o sioux cada tenda o tipi é uma imagem do mundo, o fogo que arde no centro representa ou melhor «é» Wakan Tanka «no mundo». Para sublinhar o caráter ritual deste fogo central, assinalaremos que, na época em que os sioux eram ainda nômades, um homem designado como «guardião do fogo» levantava habitualmente sua tenda no centro do acampamento circular. Quando o acampamento se movia, o guardião levava o fogo em um pequeno tronco de árvore, e quando o acampamento era estabelecido novamente, todas as tendas acendiam seu fogo neste lugar central. Este fogo não se apagava e se trocava por outro sempre de uma maneira ritual mais que no caso de uma grande calamidade, ou quando todo o acampamento tinha necessidade de uma purificação completa.

A fumaça desta erva deve cobrir todas as coisas da Terra, e deve chegar também ao Céu.

Que a estrada de teu povo seja semelhante a esta fumaça!

Te oferecido este Cachimbo, e agora ponho em seu fornilho o kinnikinnik.

Tu nos ensinaste que o fornilho redondo deste Cachimbo é o verdadeiro centro do Universo e o coração do homem.

Ó Wakan Tanka!, Inclineis Vosso olhar para nós; olha teu Chanumpa, com ele é que vamos enviar uma voz com os povos alados, os quadrúpedes e todos os frutos de nossa Mãe Terra. Tudo o que Vós fizestes se une a nós para enviar esta voz.

Ao reencher Chanumpa, seu santo guardião faz as oferendas rituais de tabaco às seis Direções com a seguinte reza:

Ó Poder alado de onde se põe o sol. Tu és sagrado!

Contigo e por teu intermédio enviamos uma voz ao Grande Espírito antes de liberar esta alma.

Há um lugar para Ti neste Cachimbo.

Ajude-nos!

Dá a teu povo teus dias vermelho e azul para que ele possa caminhar pelo caminho da vida segundo o mistério.

Ó Poder alado do lugar onde vive Wazia, purificador da terra, dos homens e de tudo o que é impuro, com a alma de um homem vamos enviar uma voz ao Grande Espírito por teu intermédio.

Há um lugar para Ti no Chanumpa; ajude-nos, então, a enviar esta voz!

Dá-nos os dias sagrados que Tu possuis!

Ó Ser alado do lugar de onde vem o sol; Tu que tens grandes asas e que controlas o conhecimento, luz do Universo, vamos enviar uma voz ao Grande Espírito com esta alma que há ficado junto a seu povo.

Tu também possuis os dois grandes dias vermelho e azul, dá-nos e ajude-nos a enviar uma voz!

Ó Maghaska, Cisne Branco do lugar ao qual nós voltamos sempre.

Tu controlas o caminho vermelho que conduz a onde Wazia tem sua tenda.

Tu guias a todos os povos quadrúpedes e bípedes que viajam por esta estrada de mistério.

Vamos liberar uma alma que partirá por tua estrada; junto com esta alma enviamos uma voz ao Grande Espírito.

Ajude-nos enviar esta voz e dá-nos teus dois dias sagrados!

Ó Águia Pintada, que estás perto do Céu, próxima ao Grande Espírito, tuas asas são poderosas!

Tu és quem vigia sobre o círculo da nação e sobre tudo, o que está contido neste círculo.

Que todos os povos sejam felizes e recebam muitas bênçãos!

Vamos liberar uma alma que parte para uma grande viagem, para que os passos de suas gerações futuras sejam santificados.

Há um lugar para Ti neste Chanumpa!

Ajude-nos a enviar nossa voz ao Grande Espírito e dá-nos os dias sagrados vermelho e azul que possuis!

Ó Wakan Tanka, vamos Te oferecer este Cachimbo. Inclineis Vosso olhar até nós e até nossa Avó e Mãe, a Terra. Tudo o que leva nossa Mãe, a fonte terrestre de toda a vida, é sagrado.

Nosso povo caminha sobre ela!

Que seus passos sejam firmes e fortes!

De Ti, Avó Terra, uma alma vai ser liberada.

Neste Chanumpa há um lugar para Ti e para todas as tuas criaturas!

Todos unidos, como um só ser, enviamos nossa voz ao Grande Espírito.

Ajude-nos a caminhar segundo o mistério de uma maneira que Te agrade!

Dá-nos os dias sagrados vermelho e azul que Tu reges!

Deste modo o Universo inteiro foi reunido no Cachimbo; então se virando para a assistência, o guardião do Chanumpa diz:

Já que fizemos tudo isto corretamente, a alma fará uma boa viagem e ajudará a nosso povo a prosperar e a caminhar pelo caminho sagrado de uma maneira que agrade ao Grande Espírito.

Dirige-se então a alma nestes termos :

Ó alma, neto meu, tu és a raiz deste grande ritual

De ti emanarão muitas coisas santas: com este ritual, nosso povo aprenderá a ser generoso, a ajudar aos que estão necessitados e a seguir todos os ensinamentos do Grande Espírito.

Ó alma, este é teu dia.

Agora é chegado o momento.

Haverá quatro virgens que levarão sempre com elas o poder deste rito.

E tu, ó alma, as cobrirás com tua pele sagrada de bisão. Este dia é teu dia; e é um dia de alegria, porque muita luz desceu sobre nosso povo.

Tudo o que esteve contigo no passado está hoje aqui contigo.

Teus parentes vieram com alimentos que serão purificados e serão oferecidos a ti, e que em seguida serão dados as quatro virgens; e depois serão repartidos entre os pobres e os desventurados.

Mas agora já é tempo de oferecer este Cachimbo ao Grande Espírito e de fuma-la.

Oferecemos-te tudo quanto há no Universo.

Te enviamos nossas vozes através deste Cachimbo. Hechetu welo!

Hi-ey-hey-i-i! Hi-ey-hey-i-i! Tunkashila Wakan Tanka, Avô, Grande Espírito, olhe para nós!

É o dia sagrado desta alma.

Que ajude às gerações futuras a caminhar conforme o mistério!

Te oferecemos este Chanumpa, ó Wakan Tanka, e Te pedimos que ajude a esta alma, a seus parentes e ao povo inteiro.

Olhe este Chanumpa e inclina Teus olhos para ver como cumprimos Tua vontade!

Te enviamos uma voz desta Terra!

Seja misericordioso conosco e também com esta alma que será liberada do centro do círculo da nação.

Ó Avô Wakan Tanka, tenha piedade de nós, para que nosso povo viva!

Ao que acontece, a assistência responde:

 

Hay-yi! Pilamaya ye!

Hechetu welo!

 

Então Chifre Oco Alto acendeu o Chanumpa, deu várias fumadas e o passou ao guardião da alma, que o ofereceu ao Céu, à Terra e as quatro Direções e, depois de fumar um pouco, o passou por todos os componentes do círculo no sentido do movimento do sol. Ao fumar, cada um pedia algum favor, e quando o Cachimbo voltou a Chifre Oco Alto foi purificada e suas cinzas cuidadosamente recolhidas em um saquinho especial feito de pele de gamo.

Agora que o Cachimbo havia sido oferecida ao Grande Espírito, Chifre Oco Alto iniciou a se lamentar e logo toda a assistência fez o mesmo.

Quem sabe no seja inútil explicar que se lamentar neste momento é uma boa coisa, porque indica que pensamos na alma liberada e também na morte que espera a tudo quanto foi criado; é sinal de que nos humilhamos frente ao Grande Espírito, porque sabemos que somos como tolos diante Dele, que é Tudo, e que é todo poderoso.

Todos os alimentos oferecidos a alma foram colocados fora da tenda; então as mulheres os levaram para a tenda.

Ali, no lado Sul, havia sido levantado um poste de madeira de salgueiro da altura de um homem, e ao redor de seu extremo foi colocado um pedaço de pele de gamo pintado um rosto; encima deste rosto foi colocado, um tocado de guerra e ao redor do poste uma pele de bisão.

Este rosto representa a alma; foram encostadas nele os arcos, as flechas, as facas e todas as demais posses do morto.

As mulheres voltaram para a tenda com alimentos; deram à volta no sentido do movimento do sol, depois se detiveram ao Sul, onde abraçaram ao poste da alma, e se retiraram apos colocados os alimentos.

Uma porção de cada alimento oferecido à alma é colocada em seguida em um taxo de madeira que foi colocado à frete do homens santos sentados ao Oeste.

Neste momento entram quatro virgens que se colocam ao Norte, porque o Poder desta Direção é a Pureza.

Então Chifre Oco Alto se levantou e falou á alma nestes termos:

Ó alma, tu és a semente!

Tu és como a raiz da árvore sagrada que está no centro do círculo de nossa nação.

Que esta árvore floresça!

Que nosso povo e os povos alados e quadrúpedes prosperem!

Ó alma, teus parentes trouxeram este alimento que logo comerás e, graças a este ato, a bondade se estenderá por toda a tribo.

Ó alma, o Grande Espírito te deu quatro parentes que estão sentados ao Norte e que representam teus parentes verdadeiros:

Avô e Pai Wakan Tanka e Avó e Mãe Maka, a Terra.

Lembrem-se destes quatro parentes que na realidade não são mais que Um; e, com eles em teu espírito, lance uma olhada para trás, sobre teu povo enquanto viajas pelo grande caminho!

Foi feito um pequeno furo na pele do poste da alma; Chifre Oco Alto pegou então a pequena vasilha de madeira que continha o alimento purificado e, se inclinando até a cavidade, disse a alma:

Vais comer este alimento sagrado.

Quando ele for colocado em tua boca, sua influência se estenderá e fará crescer e prosperar aos frutos de nossa Mãe Terra. Tua Avó és santa; estamos em pé sobre ela e introduzimos este alimento em tua boca.

Não nos esqueça quando for até Wakan Tanka, e dirija um olhada para trás sobre nós! Colocaram o alimento no pequeno buraco e em seguida derramaram suco de cerejas selvagens sobre ele; este suco é a água da vida.

Em seguida foi coberto o braseiro com terra: a alma havia terminado sua última refeição. As quatro virgens se começaram então a comer a carne de bisão sagrada e a beber o suco de cerejas; mas antes os alimentos foram purificados na fumaça da erva aromática, depois do qual Chifre Oco Alto se dirigiu às jovens:

Netas, vão receber agora a semente espiritual da alma; por sua virtude, vocês e seus frutos serão santificados para sempre.

Netas, não se esqueçam de compartilhar seus alimentos e tudo o que possuem, porque no mundo nunca falta indigentes, de órfãos e de velhos.

Mas, acima de tudo, netas minhas, nunca se esqueçam de seus quatro grandes Parentes, que representam a seus parentes aqui na Terra.

Vão agora comer e beber o fruto da Mãe Terra e, mediante este ritual, vocês e seus frutos serão sagrados.

Recordem sempre disso, filhas minhas!

Chifre Oco Alto pegou a vasilha, e cada vez que punha um pouco de alimento na boca de uma virgem, dizia:

Ponho este alimento em tua boca.

É doce e tem o aroma do sagrado.

O povo verá tuas gerações futuras.

Em seguida as quatro virgens se inclinaram e beberam o suco de cerejas selvagens que havia na vasilha de madeira colocada no solo, e quando terminaram de beber, Chifre Oco Alto lhes disse:

Netas, tudo o que fizemos hoje aqui está cheio de mistério lilla wakan; o fizemos segundo as instruções transmitidas pela Mulher celeste que também era bisão, e que nos trouxe o muito santo Chanumpa.

Ela nos disse que tinha quatro idades; vocês também, netas, tens estas idades.

Compreendam profundamente, porque é importante.

É uma grande coisa a que hoje fizemos.

É assim, em verdade! Hechetu welo!

Chifre Oco Alto caminhou então em círculo até o Sul e, levantando o saquinho da alma, lhe disse:

Neto, vais partir para um grande viagem.

Teu pai e tua mãe, todos os teus parentes te amavam. Logo estarão felizes. O pai do menino abraçou o saquinho sagrado o colocando em cada ombro, depois disso, Chifre Oco Alto lhe disse: Tu amavas a teu filho, e o tem guardado no centro do círculo de nosso povo, seja bom com os demais como o tem sido com teu filho!

A influência misteriosa da alma de teu filho estará com os homens; é como uma árvore que sempre florescerá. Chifre Oco Alto então avançou descrevendo um círculo até o Norte e, tocando em cada uma das virgens com o saquinho de mistério, disse:

Eis aqui a árvore que foi escolhida para ser o centro de vosso círculo sagrado!

Que sempre prospere e floresça segundo o mistério, então Levantando o saquinho até o Céu, exclamou: Dirige sempre teu olhar para teu povo, para que caminhe com passo firme pelo caminho sagrado!

Chifre Oco Alto lançou este grito quatro vezes enquanto caminhava até a saída da tenda e, quando se deteve pela quarta vez estava já fora, diante da tenda, gritou em um tom muito agudo:

Olha a teu povo, se recorde dele!

No instante em que o saquinho passou pela saída da tenda, a alma foi liberada e partiu pela estrada dos espíritos que conduz a Wakan Tanka. Quando a alma parte, o saquinho com a mecha de cabelo deixa de ser wakan sagrado, num sentido direto, mas a família pode conservá-lo como recordação se desejar. As quatro virgens santificadas receberam uma pele de bisão cada uma e abandonaram a tenda imediatamente depois de Chifre Oco Alto.

Assim terminou o ritual; em todo o acampamento as pessoas estavam felizes e manifestavam sua alegria, e corriam para tocar as quatro virgens que agora eram lilla wakan; haviam se tornado um suporte permanente desta grande influência espiritual e numa fonte inesgotável de força e de coragem para a tribo. Foi feita uma grande distribuição de presentes aos pobres e aos necessitados, e por todos os lados não havia mais que festas e regozijo.

Foi, em verdade, um grande dia. Hechetu welo!

 

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